Nesta altura, em que um dos assuntos que marca atualidade internacional
é o do envenenamento em solo britânico do ex-espião russo Sergei Skipral, e de
sua filha Yulia Skipral, por uma substância neurotóxica, acabei, por coincidência, de
ler um livro que narra uma estória romanceada de espionagem em que os cenários
são sensivelmente os mesmos, Londres e Moscovo, e em que as envolvências
parecem semelhantes, o submundo dos serviços de informações, a vida
profissional e particular dos agentes secretos, a atividade de espionagem e contraespionagem,
as fugas de informação, os sentimentos humanos e o recurso à morte, utilizada de
forma leviana e fria para atingir um fim
e nunca pensada como o fim de uma vida.
Trata-se do livro “O fator humano”, obra do escritor inglês Graham
Greene, escrita em 1978.
Neste romance, creio que posso classificar assim a obra, é descrito
o mundo da espionagem numa perspetiva que me agradou. Talvez pelo facto de o
autor também ter sido espião, trabalhou no M16 durante a segunda guerra
mundial, consegue neste livro apresentar-nos o mundo dos serviços secretos de
uma forma que nem sempre se vê neste tipo de obras: põe de lado o
sensacionalismo e a espetacularidade inverosímil de ações, cenários e até
personagens, e relata-nos, ainda que de forma romanceada, o quotidiano e a
vertente humana de um mundo (ou submundo) onde os principais agentes são homens
e mulheres de carne e osso.
Quem lê o livro percebe perfeitamente que aquele enredo só podia
ter sido imaginado e descrito por alguém que “conviveu” com aquelas personagens
e que percorreu aqueles meandros. Este facto, na perspetiva do leitor, dá
credibilidade à narrativa, que vertida numa escrita elegante e fluente o prende
e o estimula a avançar cada vez mais na procura de um desenlace que acaba por não ser completamente conclusivo.
Ler este livro e ouvir “em surdina” os relatos da
atualidade, permitiu-me constatar que uma atividade que se julgava ser já do domínio da história ainda permanece atual, e, aparentemente, continua a utilizar os métodos e a poder cair nos mesmos equívocos.