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quinta-feira, 31 de maio de 2018
domingo, 1 de abril de 2018
Domingo de Páscoa
Para compreender a
origem e o significado de uma tradição do domingo de Páscoa que hoje se vive –
O Compasso/Visita Pascal – sugiro a leitura deste artigo do Professor Doutor
José Amadeu Coelho Dias (Frei Geraldo), insigne Professor Jubilado da Faculdade
de Letras da Universidade do Porto e Monge Beneditino.
Compasso na Freguesia do Outeiro, em Viana
do Castelo, na década de sessenta do século XX |
sábado, 31 de março de 2018
O Factor Humano
Nesta altura, em que um dos assuntos que marca atualidade internacional
é o do envenenamento em solo britânico do ex-espião russo Sergei Skipral, e de
sua filha Yulia Skipral, por uma substância neurotóxica, acabei, por coincidência, de
ler um livro que narra uma estória romanceada de espionagem em que os cenários
são sensivelmente os mesmos, Londres e Moscovo, e em que as envolvências
parecem semelhantes, o submundo dos serviços de informações, a vida
profissional e particular dos agentes secretos, a atividade de espionagem e contraespionagem,
as fugas de informação, os sentimentos humanos e o recurso à morte, utilizada de
forma leviana e fria para atingir um fim
e nunca pensada como o fim de uma vida.
Trata-se do livro “O fator humano”, obra do escritor inglês Graham
Greene, escrita em 1978.
Neste romance, creio que posso classificar assim a obra, é descrito
o mundo da espionagem numa perspetiva que me agradou. Talvez pelo facto de o
autor também ter sido espião, trabalhou no M16 durante a segunda guerra
mundial, consegue neste livro apresentar-nos o mundo dos serviços secretos de
uma forma que nem sempre se vê neste tipo de obras: põe de lado o
sensacionalismo e a espetacularidade inverosímil de ações, cenários e até
personagens, e relata-nos, ainda que de forma romanceada, o quotidiano e a
vertente humana de um mundo (ou submundo) onde os principais agentes são homens
e mulheres de carne e osso.
Quem lê o livro percebe perfeitamente que aquele enredo só podia
ter sido imaginado e descrito por alguém que “conviveu” com aquelas personagens
e que percorreu aqueles meandros. Este facto, na perspetiva do leitor, dá
credibilidade à narrativa, que vertida numa escrita elegante e fluente o prende
e o estimula a avançar cada vez mais na procura de um desenlace que acaba por não ser completamente conclusivo.
Ler este livro e ouvir “em surdina” os relatos da
atualidade, permitiu-me constatar que uma atividade que se julgava ser já do domínio da história ainda permanece atual, e, aparentemente, continua a utilizar os métodos e a poder cair nos mesmos equívocos.
sexta-feira, 30 de março de 2018
SEMANA SANTA BRAGA 2018
Semana Santa Braga 2018 - Cartaz oficial |
Apesar das condições
climatéricas não estarem a ajudar fica aqui uma referência muito merecida ao
programa da Semana Santa de Braga 2018 (hiperligação – clique para aceder).
Em tempos já aqui se falou
da Semana Santa de Braga, veja, ou reveja, aqui.
domingo, 25 de fevereiro de 2018
Fantasporto 2018
Está
a decorrer, até 4 de março, a 38ª edição do Fantasporto 2018 – festival internacional
de cinema do Porto.
A
programação é multifacetada e os preços são acessíveis. Uma boa oportunidade
para todos os amantes do cinema fantástico participarem nesta iniciativa que é
uma das mais prestigiadas do género a nível nacional e até internacional.
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
João Ribas é o novo Diretor do Museu de Serralves
O
novo Diretor do Museu de Serralves era, desde 2014, Diretor-adjunto daquele
museu e foi nomeado na sequência de um concurso internacional. Tem 38 anos, é
natural de Braga, mas viveu grande parte da sua vida nos Estados Unidos, onde
fez carreira e foi distinguido com vários prémios ligados ao mundo da arte.
Substitui
no cargo Susanne Cotter que é, desde dia 1 de janeiro, Diretora do Musé d’Art Moderne Grand-Duc Jean (Mudam), no
Luxemburgo.
Uma nomeação que se saúda, de um jovem português altamente qualificado para o exercício do cargo, a quem se deseja sucesso, porque as expectativas são muito elevadas!
quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
Faleceu Madalena Iglésias
A cantora Madalena Iglésias, que
venceu o Festival da Canção em 1966 com a música "Ele e Ela", faleceu
esta terça-feira aos 78 anos, em Barcelona, onde vivia desde 1987.
Deixa-nos
mais uma referência dos anos 60, essa década revolucionária no cenário musical e
não só….
Numa
altura em o país se prepara para organizar o Festival Eurovisão da Canção, na
sequência da vitória alcançada por Salvador Sobral no ano transato, na Ucrânia,
e após décadas de tentativas frustradas para alcançar a vitória, é triste ver partir a interprete de
uma das canções mais associadas a essas tão esforçadas, e por vezes tão
inglórias, participações.
Partiu “Ela”, a cantora, mas “Ele”, o ícone da música portuguesa, fica a imortalizá-la.
Partiu “Ela”, a cantora, mas “Ele”, o ícone da música portuguesa, fica a imortalizá-la.
terça-feira, 16 de janeiro de 2018
Casa da Música – Iniciativa Casa Aberta
Decorre
entre 17 e 21 de janeiro a “Casa Aberta”, iniciativa promovida pela Casa da
Música, no Porto.
Esta é
uma atividade que se repete e que permite ao visitante, de forma gratuita,
aceder aos recantos daquele edifício emblemático onde se respira música.
O
programa contém um conjunto diversificado de iniciativas que inclui visitas
guiadas gratuitas e possibilidade de assistir a ensaios, participar em atividades
educativas, ver filmes e ainda visitar palcos e bastidores.
É uma boa
oportunidade para os que são menos propensos a este género de manifestação
cultural lhe fazerem uma primeira abordagem, de forma descontraída.
Também me parece interessante para gente de tenra idade, que por lá fui
vendo em número considerável nos anos anteriores.
Está de parabéns a Casa da
Música por, mais uma vez, promover esta iniciativa, cujo programa pode ser
consultado aqui.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2018
Morreu Dolores O´Riordan vocalista dos The Cranberries
Tinha 46 anos e morreu, aparentemente,
de forma inesperada (pode ler-se no Público).
Lamento a partida de mais
uma referência musical dos idos anos 90 e 2000…
Apreciava particularmente a sua voz que encaixava
na perfeição com a sonoridade, marcadamente irlandesa, da música produzida
pelos The Cranberries.
Em sua homenagem deixo
aqui uma das minhas preferidas: Ode To My Famaly!
Temporada 2018 da Casa da Música - País tema: Áustria
“2018 um ano para sonharmos e nos desafiarmos a mergulhar no imaginário cultural único – o da música austríaca – e o dos nossos próprios sonhos. Bem-vindos ao Ano Áustria”.(in www.casadamusica.com)
Em termos musicais, e não
só, a Áustria antecipa exuberância e agudiza expectativas.
O programa anual da Casa da
Música é bastante completo e diversificado.
Há que fazer boas escolhas, e for o
caso, como acontece por cá, aproveitar para recordar todo esplendor de Viena na
época do Natal. Bom… muito bom!
terça-feira, 7 de junho de 2016
Serralves em Festa juntou mundos
Arte contemporânea em modo non stop. Exposições, workshops, concertos, pessoas (muita, muita gente), espaços
(interiores e exteriores, naturais e edificados). Tudo em apenas 40 horas! E no fim... fica-se com vontade de voltar.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
“Grândola Vila Morena” cantada em Espanha
Quem é que disse que as
exportações portuguesas estão a desacelerar?
quarta-feira, 4 de julho de 2012
O Códice Calixtino
Esta é uma notícia que me alegra
muito. Devo confessar que fiquei estupefacto com o desaparecimento da obra e
que era muito cético quanto à sua possível recuperação. Ainda bem que tudo
terminou em bem... e sobretudo com códice intacto.
O Códice Calixtino
(no Latim "Codex Calixtinus") é um
manuscrito, de meados do século XII, que reúne um conjunto de textos em Latim, com
ilustrações, que visavam a promoção da Catedral de Santiago de Compostela.
Trata-se de uma obra com grande
valor literário para a época, onde sobressai a utilização do Latim, com um
elevado nível de correção.
Muito embora a sua autoria seja atribuída
ao Papa Calisto II, crê-se que tenha sido redigido por vários autores, entre os
anos de 1130 e 1160.
O códice divide-se em cinco
livros e é composto por um total de 225 folhas, de dupla face, com as dimensões
de 295mm x 214 mm. A maioria das folhas compreende uma única coluna com 34
linhas de texto.
O exemplar mais antigo deste códice,
que se crê ser uma cópia de um exemplar modelo, encontra-se à guarda da
Catedral de Santiago de Compostela, sendo datado da década de cinquenta do século
XII (entre 1150 e 1160).
O livro I, designado por "Anthologia
liturgica" (Antologia litúrgica) é o mais longo do códice, compreendendo
um total de 139 folhas e possui um caráter marcadamente litúrgico. Trata-se de
uma coletânea de homilias, de cânticos litúrgicos, de cânticos de peregrinos e
de sermões em honra do apóstolo Santiago proferidos na Catedral de Santiago de
Compostela. O âmago da obra – o sermão "Veneranda dies"-
procura mostrar o sentido e o valor espiritual da peregrinação a Santiago.
O segundo livro, "De
miraculi sancti Jacobi" (Milagres de Santiago), estende-se da folha
139 à 155 e compreende uma compilação de 22 milagres atribuídos a Santiago,
ocorridos em diversas partes da Europa, em especial no percurso do Caminho de
Santiago.
O livro III, "Liber de
translatione corporis sancti Jacobi ad Compostellam" (livro da
transladação do corpo de Santiago para Compostela) compreende as folhas de 156
a 162 e nele é relatada a evangelização do apóstolo Santiago em Espanha e a transladação
do seu corpo para Compostela.
O quarto livro, "Historia
Karoli Magni et Rothalandi" (História de Carlos Magno e Rolando) encontra-se
entre as folhas 163 e 191 do códice. Nele é narrada, em tom épico, a história
de Carlos Magno e de Rolando em Espanha. Carlos Magno é apresentado como tendo
sido o descobridor do túmulo do apóstolo Santiago e criador das primeiras
peregrinações a Compostela e à sua Catedral.
O livro V, "Iter pro
peregrinis ad Compostellam", é provavelmente o mais conhecido do
grande público e constitui o mais antigo guia para os peregrinos do Caminho de
Santiago, incluindo conselhos, descrições do percurso e das obras de arte nele
existentes, assim como usos e costumes das populações que viviam ao longo da
rota.
O códice foi impresso pela
primeira vez em 1882 tendo em 1966 sido objeto de restauro, ocasião em
que lhe foi reincorporado o Livro IV, que dele havia sido destacado em 1609.
No dia 5 de Julho de 2011 a obra foi dada como desaparecida pelos responsáveis do arquivo da Sé Catedral de Santiago de Compostela, na sequência de um pertenço roubo. Ontem, quando faltavam dois dias para fazer um ano do seu desaparecimento, o mesmo foi recuperado pela polícia, em bom estado, na garagem de antigo electricista da Catedral de Santiago de Compostela.
quinta-feira, 28 de junho de 2012
Siza Vieira vence Leão de Ouro de carreira na Bienal de Veneza
Álvaro Siza Vieira: um intelectual de excelência; uma
obra ímpar; uma personalidade discreta. O Homem e a sua obra – um todo merecedor
da maior admiração. Parabéns!
sábado, 9 de junho de 2012
Berezka Ensemble
Isto é delicioso! A forma sublime como as bailarinas se
movimentam sobre o palco na interpretação de uma dança folclórica russa é
verdadeiramente encantadora!
O “passo flutuante”, a técnica utilizada é um segredo do grupo que as bailarinas guardam até da própria família.
Extraordinário!
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Pode uma Pomba deitar o coliseu abaixo?
Por incrível que pareça, pode contribuir para isso...
“Foram os turistas que, na segunda-feira, deram o alerta em Roma. O coliseu sofreu um pequeno desabamento por culpa de uma pomba.
Este podia ser considerado um acidente normal e sem grandes consequências se o alvo não tivesse sido o Coliseu de Roma.
O choque de uma pomba partiu mais um pedaço de calcário da fachada exterior e provocou um pequeno desabamento.
O acontecimento foi testemunhado por turistas. As autoridades foram avisadas e o espaço foi delimitado.
O acidente com a pomba e a queda de pequenos pedaços de parede desde há dois dias vieram acentuar a preocupação e reforçar os alertas para a necessidade urgente de restaurar o monumento.
No mês passado o sub-secretário italiano da cultura dizia que o coliseu tinha sofrido três mil ferimentos em vários locais, mas que estes não representavam perigo.
Ao fim de vários anos de desgaste e diversos avisos o monumento vai agora ser restaurando por um empresário do calçado.
O início das obras está marcado para Março e vai custar 26 milhões de euros. Em troca, o empresário garante os direitos de imagem do monumento.
O coliseu também conhecido como Anfiteatro Flaviano foi construído entre os anos 72 e 80 depois de Cristo em honra da dinastia dos imperadores Flavia.
Demorou 10 anos a ser construído e tinha capacidade para abrigar perto de 50 mil pessoas, com 48 metros de altura, e era usado para variados espectáculos.
Em 1980 a Unesco declarou-o Património da Humanidade.”
Publicado na TSF online
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
"VII Encontro de Cânticos de Natal" em Tabuado
No passado Domingo realizou-se em Tabuado o “VII Encontro de Cânticos de Natal “.
Este evento, de natureza cultural, promovido pela Junta de Freguesia de Tabuado, decorreu na Igreja Românica e contou com a participação de seis grupos: Grupo Coral da Paróquia de Paredes de Viadores, Alunos da Escola Pré-Primária, Alunos da EB1, Grupo Coral do Centro de Convívio da Casa do Povo de Tabuado, Grupo Coral da Associação Cultural e Recreativa de Tabuado e Grupo Coral da Paróquia de Tabuado.
Os que assistiam (onde me eu incluía) tiveram oportunidade de presenciar um conjunto de actuações muito valorosas, onde se misturaram a ternura dos mais pequeninos, com o talento dos mais crescidos, para nos proporcionarem duas horas e meia de puro encanto, revivendo a tradição dos cânticos de natal.
Foi de facto um espectáculo muito bonito e a todos quantos na tarde do último Domingo, se recolheram no regaço das paredes centenárias da Igreja Românica, foi dado ver que Tabuado está vivo, e bem vivo, e que é uma terra com orgulho e identidade própria, que merece ser estimulada e promovida.
Deixo aqui os meus parabéns a todos os participantes e quantos colaboraram na organização e uma palavra de estímulo para que continuem a trabalhar, cada um à sua maneira, para a construção de uma terra mais unida, que se orgulhe do seu passado e promova as suas tradições e que se projecte no futuro através do talento dos seus filhos, de todas as gerações.
sábado, 26 de novembro de 2011
Fado Património Imaterial da Humanidade
Na sequência de um processo que começou há mais de cinco anos, e que foi formalizado com uma candidatura apresentada pela Câmara Municipal de Lisboa, a UNESCO decide este fim-de-semana se o Fado passa a ser, ou não, Património Imaterial da Humanidade.
Eu apoio esta candidatura e espero que ela seja bem sucedida.
O Fado é, sem dúvida, um símbolo da identidade portuguesa. Esta canção, com as suas diversas variantes e formas de expressão própria, ligadas a locais característicos, traduz na música, na letra e na forma como é cantada, muito do que é ser português. Muita da nossa história, da nossa forma de ser e estar, das nossas característica como pessoas e como Nação, estão lá representadas e de forma sublime. Por isso é que esta “canção urbana”, tão simples na sua forma, mas que é capaz de identificar um povo, uma nação e uma cultura tão antigas, merece ser elevada à categoria de Património do Mundo que interessa promover e preservar.
domingo, 30 de outubro de 2011
Vilar de Perdizes – Halloween à portuguesa
Fica aqui uma sugestão para quem procura programa para celebrar o “dia das Bruxas”.
A exemplo de outros anos, em Montalegre, a aldeia de Vilar de Perdizes recebe os forasteiros com um programa de Halloweem bem à portuguesa, recheado de bruxas e feitiços, que por estes dias dão uma vida muito especial àquelas terras do Barroso, no extremo norte de Portugal.
Quem puder aproveite, pois, com toda certeza, não vai arrenpender-se.
Há mais de um século já Eça nos comparava à Grécia
Como julgo saberão, porque já o disse por cá, Eça de Queirós é um dos meus escritores preferidos. A forma exímia como através da sua escrita descreve a sociedade do seu tempo faz-nos viajar até ele – o seu tempo – e sentir, aí chegados, que estamos no nosso. É de facto uma sensação estranha mas curiosa, a de ler palavras escritas há mais de 100 anos e sentir que assentam, que nem uma luva, á realidade contemporânea.
Em diversas situações, falando sobre a mutação das sociedades, seja pela alteração dos valores vigentes ou pela repetição dos ciclos económicos, citei Eça de Queirós, precisamente para dizer que ele, mais do que ninguém, nos faz ter a certeza de que as sociedades funcionam por ajustamentos, com cadência temporal, em que os ciclos tendem a repetir-se. Tenho feito esta a alusão ao autor, por causa da semelhança da realidade social, com mais de um século, por ele descrita (em escrita) com a dos nossos dias.
A propósito desta temática, encontrei no sítio da Rádio Renascença uma reportagem muito interessante de Matilde Torres Pereira que reproduzo a seguir e aconselho a leitura. Até parece ironia, mas vejam que Eça já no seu tempo comparava a nossa realidade com a Grega.
Bem se vê, como diria Eça, que em mais de um século de história evoluímos pouco.
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Reprodução do artigo na íntegra.
Eça escreveu sobre os dias de hoje. Já lá vão mais de 100 anos.
Conhecido pelo realismo da palavra, Eça de Queirós versou sobre um país só comparável à Grécia, nas "Farpas" de 1872. Mais de 100 anos depois, a Renascença encontrou "queirosianos" num espaço que o próprio escritor frequentou e foi tentar perceber, com Eça como mote, o que mudou em Portugal.
Por Matilde Torres Pereira em 27-10-2011 15:00
Há um "cliché" que versa sobre as palavras e que diz que "há frases sempre actuais". Quando se espreita as páginas escritas por Eça de Queirós há mais de 100 anos, percebe-se que a actualidade é um tempo que se estende por vários séculos.
"Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência de espírito", escreveu Eça nas "Farpas", em 1872. Fora do contexto, até pode parecer que foi pensado para os dias de hoje
“Se lermos o Eça neste momento, verificamos que algumas páginas parecem completamente actuais. Uma crítica muito grande às elites e à sua debilidade, uma incapacidade total de sermos respeitados internacionalmente, um desprestígio internacional que só perde para a Grécia", diz à Renascença o advogado Pedro Rebelo de Sousa, que frequenta regularmente jantares "queirosianos" no Grémio Literário de Lisboa. Curiosamente, o mesmo Grémio que Eça costumava frequentar.
Além da ponte que estabeleceu com a Grécia, que é mais actual que nunca, Eça também escreveu sobre o receio de uma crise perene. “De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura”, lê-se numa correspondência do escritor, datada de 1891.
O actual embaixador de Portugal em Paris, que também frequenta os encontros no Grémio, não tem dúvidas. “Há muitas coisas que ele dizia da sociedade portuguesa do seu tempo que aplicaria à sociedade hoje”, refere Francisco Seixas da Costa.
“O Eça era um homem hipercrítico em relação a Portugal e esse hipercriticismo traduzia muito do que era o seu amor a um certo Portugal”, prossegue o embaixador. “O Portugal em crise era um pouco um Portugal que ele sofria...Se fosse vivo hoje, Eça teria alguns adjectivos que ficariam famosos na nossa imprensa”, observa o Francisco Seixas da Costa.
O elemento trágico
Portugal mudou significativamente desde que Eça escreveu "As Farpas"? O embaixador de Portugal em Paris divide o seu raciocínio em duas metades: há elemento trágico e um vislumbre optimista.
“O Eça nasceu há 165 anos e Portugal é um país que manifestamente, em nível de vida, melhorou bastante”, começa por dizer Francisco Seixas da Costa. “Acontece que Portugal ainda não se libertou de um elemento que é quase endémico nos seus ciclos - a emigração”, constata o embaixador.
“A emigração é um elemento trágico para um país”, acrescenta Francisco Seixas da Costa. “É a prova provada de que um país não conseguiu encontrar para os seus cidadãos soluções de vida dentro da sociedade”, argumenta.
Continuar a ser Portugal
Homem dos dias de hoje, o escritor Miguel Sousa Tavares cruzou-se com a Renascença no encontro do Grémio. Quando recorda o que Eça escreveu sobre a sociedade portuguesa de hoje, conclui que afinal parece que não se estava assim tão mal.
“O Eça seria talvez mais cáustico do que nós ainda somos e isto é um factor de optimismo - para Eça, Portugal há 100 anos não tinha futuro e nós ainda aqui estamos. Portanto, talvez continuemos”, diz Miguel Sousa Tavares.
Para o embaixador do Brasil em Portugal, Eça faz parte da estirpe de escritores que são autores de todos os tempos, de todas as eras. Mário Vilalva fez parte do painel que debateu há dias, no Grémio Literário de Lisboa, o escritor português.
"Eça e a sua obra são absolutamente intemporais, ou seja, podem ser vistos em qualquer um dos tempos e podem ser comparados com os tempos em que estamos vivendo no dia de hoje”, sustenta Mário Vilalva.
O embaixador brasileiro em Portugal sublinha ainda que Eça escreveu também sobre o que se encontra no lado de lá do Atlântico. "Os ‘tipos’ [sobre os quais] Eça de Queirós [escreveu] também poderiam ser encontrados no Brasil com muita facilidade, talvez até em mais quantidade - é muito actual."
As notícias exageradas da morte de Portugal
E hoje, como seria a análise do escritor de “Os Maias” e de “A Cidade e as Serras” a Portugal? Mariana Eça de Queirós olha para o busto do seu bisavô no bar do Grémio e responde convictamente que “veria da mesma maneira que via antigamente”.
“De uma forma crítica, uma crítica construtiva, porque não era propriamente fazer troça dos portugueses, nem falar mal”, assegura. “Era no sentido de irritação, pelo facto de os portugueses não serem mais evoluídos do que eram e do que são”.
Para Pedro Rebelo de Sousa, não é bem assim. “O mundo do Eça era o de um país com profundos atrasos e hoje Portugal, numa crise financeira, é um país diferente”, diz.
Miguel Sousa Tavares mantém a tónica optimista. "Mudou muita coisa, as situações não são comparáveis. Só espero que hoje, como então, as notícias da morte de Portugal sejam exageradas."
E sobre a crise financeira, o que teria Eça de Queirós a dizer? Pelo menos sabe-se o que pensava em 1867, num artigo publicado no "Distrito de Évora": "Hoje, que tanto se fala em crise, quem não vê que, por toda a Europa, uma crise financeira está minando as nacionalidades? É disso que há-de vir a dissolução".
Mas Eça também era um optimista. "Quando os meios faltarem e um dia se perderem as fortunas nacionais, o regime estabelecido cairá para deixar o campo livre ao novo mundo económico."
Também podem ler o artigo aqui.
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