Na
semana que hoje termina falou-se muito da reposição das 35 horas como horário
de trabalho semanal na função pública e do seu possível alargamento ao setor
privado. Nos debates a que assisti esgrimiram-se argumentos contra e a favor.
Os primeiros, escudam-se basicamente em questões de natureza
económico-financeira ligadas à necessidade de controle da despesa pública e de competitividade
económica. Os segundos, defendem que se trata, acima de tudo, da reposição da
legalidade no contrato jurídico que regula a relação laboral entre o Estado e os
seus trabalhadores (a maioria deles, se se quiser ser mais preciso), que foi
unilateralmente quebrado por parte do empregador quando alargou o horário de
trabalho sem o correspondente aumento de vencimento.
No
confronto de argumentos nada de novo. As posições declaradas continuam em
grande medida condicionadas pelos taticismos político-partidários e esse facto
é suficiente para inquinar qualquer debate.
Ainda
assim, num desses debates, foi lançada, a meu ver, uma nova perspetiva nesta
discussão. Um sociólogo, falando sobre o tema, disse a determinada altura, num
á parte, que a redução do horário de trabalho representa um avanço civilizacional
e que este é perfeitamente compatível com a necessidade de desenvolvimento
económico e com o aumento da criação de riqueza. Em poucas palavras explicou o
seu ponto de vista referindo, no essencial, que se o trabalhador trabalhar
menos horas vai ter tempo para desenvolver outras atividades que podem ajudar a
dinamizar a economia e contribuir para o aumento da criação de riqueza.
O
orador foi interrompido na sua intervenção pelos outros protagonistas e o
debate, com anuência de quem o conduzia, seguiu o seu curso previsível sem que
alguém tivesse dado importância a esta perspetiva.
Eu, no
entanto, fiquei a pensar nela.
Não é
verdade que se alguém tiver mais tempo disponível pode dedicar-se a outras
atividades que podem ser exploradas economicamente? Por exemplo, praticar desporto,
ir ao cinema, cozinhar, ler, estudar, frequentar formação profissional, viajar,
fazer turismo… Não podem estas áreas de
negócio beneficiar da redução do horário de trabalho semanal e contribuir para
a dinamização da economia do país? Mais, com mais tempo disponível, os
trabalhadores não poderão lançar-se no desenvolvimento de atividades
complementares da que exercem profissionalmente? Estou a lembrar-me de
atividades tradicionais ao nível do comércio, da agricultura, dos serviços, ou mesmo
da micro industria; mas também de atividades ligadas ao empreendedorismo social
ou á inovação tecnológica.
A resposta a estas
questões parece-me afirmativa e, portanto, se Portugal se tem disponibilizado para
ser cobaia para experimentação de teorias económicas, porque não explorar esta
possibilidade?