terça-feira, 11 de maio de 2010

O Papa Bento XVI visita Portugal

Papa Bento XVI

Sua Santidade o Papa Bento XVI inicia hoje, 11 de Maio, a sua primeira visita, enquanto sumo pontífice, ao nosso país.
Esta visita, que também é de Estado, acontece a convite do Presidente da República Portuguesa e da Igreja de Portugal e terá a duração de quatro dias, repartindo-se por três cidades, Lisboa, Fátima e Porto.
Ao longo dos últimos dias tenho lido e ouvido comentários bastante antagónicos a cerca desta visita, mas como estamos num Estado de Direito e Democrático, todas as opiniões devem ser respeitadas, ainda que algumas delas, pareçam completamente desprovidas de sentido e oportunidade.
Penso que, de uma forma geral, a Igreja portuguesa, tem tido uma postura correcta ao longo deste processo, porque soube colocar todo o enfoque da visita na sua dimensão religiosa e pastoral, afastando-se desta forma, das polémicas em que alguns queriam envolve-la.
O exemplo mais recente desta tentativa aconteceu ontem no programa de Miguel Sousa Tavares, na SIC, “Sinais de Fogo”.
Lá foram apresentadas algumas peças jornalísticas em que se tentou fazer passar a ideia de que esta seria uma visita oportunista, feita à medida de um desagravo programado à pessoa do Papa, que ultimamente viu a sua imagem afectada com a divulgação pública de casos de pedofilia no seio da Igreja Católica. Nas mesmas peças foram ainda abordados, em tom crítico, a excentricidade dos gastos com esta visita e a postura errada do Governo de Portugal, um Estado laico, que ao conceder tolerância de ponto aos funcionários públicos, estava a provocar efeitos gravosos na economia do país.
Começando pelo final, e analisando friamente os dados, penso que a atitude do Governo pode merecer algum reparo, porque de facto a decisão de conceder tolerância de ponto pode ter repercussões ao nível da economia do país, nomeadamente, no que aos níveis de produtividade diz respeito. Mas a decisão governamental pode ainda ser merecedora de maior reparo, porque, em meu entender, ela teve objectivos eminentemente políticos. Posso estar enganado, mas vejo esta decisão, como um gesto de “falsa cortesia”, do Governo para com a Igreja Católica, a quem no âmbito da sua actuação tem afrontado em diversas ocasiões, sendo a mais recente, a Lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Enfim, uma acção de charme, não vá acontecer algum reparo público a cerca da actuação governamental, neste momento tão delicado para o executivo.
Quanto às críticas aos gastos com logística desta visita, eles são de facto muito elevados, mas parecem-me semelhantes aqueles que se suportam com outros eventos de natureza política e social que se realizam no país. Acho que estar a empolar este facto, neste momento, para o contrapor à doutrina social da Igreja, é demagogia barata. Além do mais, ao que consta a Igreja portuguesa não celebrou protocolos com o Estado para custear as despesas com as infra-estruturas para as celebrações e cerimónias públicas. Creio, e é público, que estas terão sido pagas com recursos próprios e com o contributo dos fiéis e de mecenas.
Por fim, perdoem-me a sinceridade, mas parece-me um atentado ao bom senso, dizer, como foi dito, que esta viagem acontece num momento estratégico e que foi programada para “dar ao Papa um banho de multidões” numa altura em que a sua imagem precisa de ser reabilitada. E que Portugal, sendo um país de brandos costumes, é o local próprio para que isso aconteça, fazendo crer que o povo português estaria a ser manietado.
Sem comentários.
Apenas dizer que, como é público, esta visita estava programada há muito tempo. Muito antes de terem sido revelados os recentes escândalos de pedofilia envolvendo a Igreja Católica. Que o Papa vem a Portugal porque foi convidado. E que os portugueses, e os Católicos em especial, apesar de não serem tão inteligentes como o Dr. Miguel Sousa Tavares, são pessoas de bom senso, que não se deixam manietar por instituições, sejam elas religiosas, políticas ou de outra natureza; nem por profissionais da comunicação, que na sua luta pelas audiências, desdizem os princípios éticos que afirmam abraçar.

Quanto ao essencial, faço votos para que a visita de Sua Santidade corra bem e seja um sucesso.

domingo, 9 de maio de 2010

Sócrates & Passos II

Esta notícia de que o primeiro-ministro voltará a reunir-se com o líder do maior partido da oposição para acertarem medidas adicionais para a redução do défice das contas públicas a mim não me surpreende.
aqui tinha dito, que ficou muito aquém das minhas expectativas o resultado do primeiro encontro, com este mesmo fim, ocorrido entre estes mesmos protagonistas, a 28 do mês passado.
O curso dos acontecimentos vem dar-me razão, a mim, e a todos os que pensam como eu.
O desequilíbrio das contas publicas é um problema grave que o país tem que resolver, e com urgência. Este combate deve ser encarado de forma decidida, com verdade e os seus custos devem ser repartidos de forma justa.
Aflige-me o facto do país ainda não ter percebido isso. Vejo que a grande maioria das pessoas ainda assobia para o lado, como se nada de grave (muito grave mesmo) se estivesse a passar.
Já para não falar da actuação do Governo no combate à crise, cuja postura tem deixado, a meu ver, muito a desejar. Penso eu que, nestas circunstâncias, se aconselhava tudo, menos uma politica de ziguezagues. Uma verdade que hoje é absoluta para o executivo (mas contra a corrente) daqui a quinze dias já é o seu contrário, por força de imposições internacionais.
Aconteceu isso com os grandes investimentos em obras públicas. Foi preciso que os parceiros europeus puxassem as orelhas ao primeiro-ministro de Portugal, para que este invertesse o sentido de certas decisões de investimento nessas mesmas obras públicas.
Pergunto eu: não poderia José Sócrates ter dado ouvidos a quem, entre portas, há tanto tempo dele reclamava essas decisões?
Poder, podia; só que o primeiro-ministro julga que corrigir uma decisão, por sugestão alheia é uma derrota. É pena que assim seja, porque quem sai prejudicado é o país.

Parabéns!


Com uns dias de atraso, quero fazer aqui uma referencia especial  ao aniversário de um amigo que costuma passar por cá com muita frequência.
J.L., muitos parabéns, faço votos para que celebres muitos, com saúde e que sejamos todos vivos para os festejar.
Um grande abraço.

Debaixo da nuvem

Nuvem no ar aviões em terra

Num dia em que muita gente “está nas nuvens” é bom lembrar que grande parte do país esteve debaixo da nuvem de cinzas do vulcão islandês Eyjafjallajökull.
A nuvem atingiu especialmente a zona norte, mas as consequências, em termos de tráfego aereo, fizeram-se sentir em todo o território nacional.
O balanço do dia é feito aqui nesta noticia do Jornal de Notícias.

Benfica campeão!

O Benfica venceu a Liga Sagres.

Parabéns ao clube e a todos os seus simpatizantes.

Dirijo uma saudação especial a todos os benfiquistas meus conhecidos, e particularmente a uma grande benfiquista que partilha comigo a responsabilidade de gerir o meu lar.

Mais não posso dizer, porque me faltam palavras...

Agricultura: é hora de inverter o caminho

Campos e alfaias agrícolas abandonados

Tal como prometido volto ao tema da agricultura em Portugal.
A agricultura foi tratada, ao longo das três últimas décadas, como o parente pobre na economia portuguesa.
Ao longo deste período, os responsáveis pela condução do país, defenderam a necessidade de alteração do modelo desenvolvimento deste e elegeram outros sectores de actividade como catalisadores desse desenvolvimento económico e social.
Este processo teve um impulso decisivo na segunda metade da década de oitenta do século passado com a entrada do país na União Europeia, então Comunidade Económica Europeia (CEE).
Face à iminente criação do mercado único europeu, começaram a delinear-se estratégias para que o país enfrentasse com sucesso esse novo desafio que se lhe colocava.
Estabeleceu-se que a matriz para o crescimento económico assentaria no desenvolvimento do sector terciário, ligado à exploração de serviços especializados e de grande valor acrescentado, nele merecendo destaque as actividades ligadas ao sector do turismo.
Devo confessar que, sendo eu à época em que estas alterações se processaram, um jovem de tenra idade, que frequentava os bancos da escola, sempre questionei a viabilidade deste modelo com quem o defendia. Discuti-o, nomeadamente com os meus professores de economia, nas salas de aula e nos corredores da escola. Afligia-me a ideia do país abandonar, ou pelo menos passar para segundo plano, o sector produtivo. Temia o impacto destas orientações na nossa balança comercial e a dependência externa a que o país se veria obrigado.
Lembro-me que muitas vezes me foi explicado que a globalização, que crescia a passo de gigante, esmagaria o nosso aparelho produtivo e que a opção do país em mudar o seu paradigma de desenvolvimento económico representava um passo em frente, num mundo à escala global e cada vez mais competitivo.
Intimamente nunca me conformei com esta explicação, que aliás senti que alguns defendiam quase que como por imposição dos manuais, mas face à minha condição de discípulo, sempre baixei a guarda, e fui derrotado nas minhas convicções.
Nos anos que seguiram aconteceu o desinvestimento no sector e tudo o mais que viu.
Submetendo-se às directrizes de Bruxelas, no âmbito da PAC (Politica Agrícola Comum), o país procedeu a uma reconversão fictícia da sua agricultura, disfarçada por entre subsídios à modernização, à produção e ao abandono dela. Um processo sem um acompanhamento e fiscalização adequados que deram azo a fraudes e a desvio de fundos.
Enfim, oportunidades falhadas.
E o inevitável aconteceu. Muitos dos verdadeiros agricultores – aqueles que sempre viveram ligados à terra – foram esmagados. Viram os preços à produção baixarem, os custos de produção aumentarem e foram forçados a abandonar a actividade.
Ao longo destes anos acompanhei as suas dificuldades; vi muitos deles receberem compensações para abandonarem a produção (por exemplo a produção leiteira); vi muitos produzirem e não conseguirem escoar os produtos (vinho, batata, fruta e outros); Vi as grandes as grandes cadeias de distribuição nacional submeterem-se à lógica exclusiva do lucro e importarem os mesmos produtos de países longínquos e de qualidade inferior, simplesmente porque eram mais baratos. Vi muitos deles, verdadeiros homens e mulheres da terra, resignarem-se e desistir; e vi as terras agrícolas ficarem ao abandono.
Uma verdadeira tristeza para quem gosta do mundo rural.
É claro que a minha preocupação ao longo destes anos foi crescendo. Os meus receios quanto à dependência externa do país, no sector da produção alimentar, não se desvaneceram.
Penso que os sucessivos governantes não têm dado a atenção devida à agricultura, sendo um dos piores exemplos protagonizado pelo anterior governo, em que o ministro da agricultura, Jaime Silva, muitas vezes se manifestou como opositor aos interesses dos Homens da terra e não seu aliado, como seria lógico.
E agora, que o país se encontra mergulhado numa profunda crise económica e financeira, com o desemprego a níveis historicamente altos, com as contas públicas descontroladas e com a balança comercial altamente deficitária, felizmente, já aparece alguém que assenta os pés na terra e começa a ter consciência de que é preciso inverter o rumo das coisas. Que é preciso arrepiar caminho e procurar novas estratégias que permitam reduzir a nossa dependência do exterior em coisas tão básicas como a produção alimentar.
É por isso que apreciei as declarações do Sr. Presidente da República, na Ovibeja, no passado fim-de-semana. Penso que elas são muito oportunas, têm toda a lógica e revestem grande importância, quanto mais não seja porque foram proferidas pelo mais alto magistrado da nação.
Ainda assim, não posso deixar de lembrar aqui que também o Professor Cavaco Silva tem culpas no cartório... É que durante as três décadas que referenciei ele foi chefe do governo durante dez anos e já leva quatro como Presidente da República.

Ainda assim mais vale tarde que nunca...