Papa Bento XVI
Sua Santidade o Papa Bento XVI inicia hoje, 11 de Maio, a sua primeira visita, enquanto sumo pontífice, ao nosso país.
Esta visita, que também é de Estado, acontece a convite do Presidente da República Portuguesa e da Igreja de Portugal e terá a duração de quatro dias, repartindo-se por três cidades, Lisboa, Fátima e Porto.
Ao longo dos últimos dias tenho lido e ouvido comentários bastante antagónicos a cerca desta visita, mas como estamos num Estado de Direito e Democrático, todas as opiniões devem ser respeitadas, ainda que algumas delas, pareçam completamente desprovidas de sentido e oportunidade.
Penso que, de uma forma geral, a Igreja portuguesa, tem tido uma postura correcta ao longo deste processo, porque soube colocar todo o enfoque da visita na sua dimensão religiosa e pastoral, afastando-se desta forma, das polémicas em que alguns queriam envolve-la.
O exemplo mais recente desta tentativa aconteceu ontem no programa de Miguel Sousa Tavares, na SIC, “Sinais de Fogo”.
Lá foram apresentadas algumas peças jornalísticas em que se tentou fazer passar a ideia de que esta seria uma visita oportunista, feita à medida de um desagravo programado à pessoa do Papa, que ultimamente viu a sua imagem afectada com a divulgação pública de casos de pedofilia no seio da Igreja Católica. Nas mesmas peças foram ainda abordados, em tom crítico, a excentricidade dos gastos com esta visita e a postura errada do Governo de Portugal, um Estado laico, que ao conceder tolerância de ponto aos funcionários públicos, estava a provocar efeitos gravosos na economia do país.
Começando pelo final, e analisando friamente os dados, penso que a atitude do Governo pode merecer algum reparo, porque de facto a decisão de conceder tolerância de ponto pode ter repercussões ao nível da economia do país, nomeadamente, no que aos níveis de produtividade diz respeito. Mas a decisão governamental pode ainda ser merecedora de maior reparo, porque, em meu entender, ela teve objectivos eminentemente políticos. Posso estar enganado, mas vejo esta decisão, como um gesto de “falsa cortesia”, do Governo para com a Igreja Católica, a quem no âmbito da sua actuação tem afrontado em diversas ocasiões, sendo a mais recente, a Lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Enfim, uma acção de charme, não vá acontecer algum reparo público a cerca da actuação governamental, neste momento tão delicado para o executivo.
Quanto às críticas aos gastos com logística desta visita, eles são de facto muito elevados, mas parecem-me semelhantes aqueles que se suportam com outros eventos de natureza política e social que se realizam no país. Acho que estar a empolar este facto, neste momento, para o contrapor à doutrina social da Igreja, é demagogia barata. Além do mais, ao que consta a Igreja portuguesa não celebrou protocolos com o Estado para custear as despesas com as infra-estruturas para as celebrações e cerimónias públicas. Creio, e é público, que estas terão sido pagas com recursos próprios e com o contributo dos fiéis e de mecenas.
Por fim, perdoem-me a sinceridade, mas parece-me um atentado ao bom senso, dizer, como foi dito, que esta viagem acontece num momento estratégico e que foi programada para “dar ao Papa um banho de multidões” numa altura em que a sua imagem precisa de ser reabilitada. E que Portugal, sendo um país de brandos costumes, é o local próprio para que isso aconteça, fazendo crer que o povo português estaria a ser manietado.
Sem comentários.
Apenas dizer que, como é público, esta visita estava programada há muito tempo. Muito antes de terem sido revelados os recentes escândalos de pedofilia envolvendo a Igreja Católica. Que o Papa vem a Portugal porque foi convidado. E que os portugueses, e os Católicos em especial, apesar de não serem tão inteligentes como o Dr. Miguel Sousa Tavares, são pessoas de bom senso, que não se deixam manietar por instituições, sejam elas religiosas, políticas ou de outra natureza; nem por profissionais da comunicação, que na sua luta pelas audiências, desdizem os princípios éticos que afirmam abraçar.
Quanto ao essencial, faço votos para que a visita de Sua Santidade corra bem e seja um sucesso.
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