Um dia destes, quando
conduzia o meu carro, num daqueles circuitos urbanos que fazem parte da rotina
diária, fui surpreendido por um inesperado “pára-arranca”. A fila de carros
seguia a passo de caracol sem que se vislumbrasse o motivo.
Aquele
impasse no trânsito vespertino começou a inquietar-me. A resignação dos
primeiros minutos foi-se transformando em impaciência. A cada metro percorrido,
olhava em frente e tentava perceber o motivo que originava aquela fila de
trânsito, e nada, nada via que pudesse justificar aquela lentidão.
O
sentido ascendente em que seguia não favorecia o meu campo visual, mas depois
de passada uma curva, consegui perceber que, a partir de determinado ponto, o
motivo que estrangulava o trânsito desaparecia.
Mas
eu continuava sem perceber qual era esse motivo, porque não conseguia enxergar
qualquer obstáculo. Muito estranha era também a sensação de que o obstáculo a
transpor pelos automobilistas também se movia e avançava lentamente no mesmo
sentido.
Pouco
tempo depois, e apenas com um carro á minha frente, consegui perceber que se
tratava de um homem que circulava numa cadeira de rodas e que seguia em plena
faixa de rodagem. Aparentava ter meia-idade, vestia por cima da roupa um vulgar
colete refletor e seguia sozinho, numa cadeira de rodas elétrica que se movia a
um ritmo semelhante a passo humano.
Ao
ver aquele quadro, a minha sensação de impaciência esvaiu-se, transformando-se
num sentimento de compreensão, respeito e admiração por aquele concidadão.
Depois
de o ter ultrapassado, segui em marcha moderada umas boas dezenas de
metros. Quando finalmente retomei a
marcha normal, assaltaram-me várias interrogações? Que garantias de segurança
tinha aquele homem ao deslocar-se naquelas circunstâncias? Não deveria a
sociedade assegurar-lhe as condições para que circulasse no passeio? Não
deveria este estar adaptado ás suas necessidades de mobilidade e ser acessível?
O que o levaria a seguir sozinho, no meio do trânsito, em plena hora de ponta?
Na busca de resposta
para a derradeira interrogação propus-me fazer a fuga para a frente. Quis ver
na atitude daquele homem uma vontade de participação na vida quotidiana. Quis
ver no respeito que por ele tiveram os automobilistas, um sinal de normalidade
e de integração das pessoas com deficiência. Quis ver naquela cadeira de rodas
elétrica um sinal de que a evolução tecnológica pode ser posta ao serviço de
TODOS.
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