terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Hoje é dia de Carnaval

Ao contrário do que poderia ser espectável esta publicação não aborda nenhuma tradição ou festejo carnavalesco, nem nenhuma das suas exuberantes ou modestas manifestações. Nesse aspeto, felizmente, até não faltariam eventos e usos que merecessem aqui uma referencia, mas o que está na origem destas linhas é uma conversa entre um adolescente e o seu pai a propósito do carnaval, que tem tudo e quase nada, a ver com o mesmo.
Pois bem, seguem pai e filho numa viagem citadina de autocarro. O diálogo entre os dois faz-se a espaços, de forma descontraída, até que do exterior algo leva o pai, um homem de meia-idade, a fazer uma referência á forma como festejava o carnaval quando tinha a idade do filho, que aparentava não ter mais que treze ou catorze anos.
Enquanto o pai falava, o filho olhava-o com entusiasmo e pontoava aqui e ali os relatos do pai com sorrisos de circunstância.
A determinada altura, na sequência de um relato a propósito de uns arremessos de água entre gaiatos, muito frequentes nos entrudos de antigamente e como que em jeito de epílogo daquela conversa o progenitor dirige-se ao descente nestes termos: «como vês antigamente as coisas eram muito mais simples, mas as crianças divertiam-se muito no carnaval…».
Entretanto, autocarro estava imobilizado numa paragem para a entrada e a saída de passageiros e o filho aproveitou aqueles momentos de maior quietude no trabalhar do motor, para responder ao comentário do pai, de forma audível e algo inesperada, ei-la «… ainda que quiséssemos divertir-nos como antigamente não o podíamos fazer, tudo nos é proibido! Vê bem, este ano, na escola, até proibiram o uso de serpentinas e confetes. O diretor justificou a ordem com a falta de funcionários, que mal chegam para limpar as salas de aula…»
Dois passageiros que seguiam sentados de frente para pai e filho, pareceram ficar surpreendidos com a resposta do miúdo e trocaram entre si olhares interrogadores. Também surpreendido pareceu ter ficado o pai que inquiriu o adolescente a propósito da sua resposta, mas em termos que os circundantes não perceberam porque o autocarro reiniciou a sua marcha e tornou pouco percetível as expressões de um e de outro.
Passou talvez um minuto, até que, encontrando-se de novo o autocarro parado, se voltou a ouvir a voz do miúdo com clareza e a rematar a conversa nestes termos «… é verdade pai! Quando realizamos alguma atividade nos espaços públicos lá da escola, por exemplo no átrio de entrada, recebemos logo uma vassoura, uma pá e um saco do lixo, com o recado de que devemos deixar tudo limpo e arrumado»
O pai, e os dois da frente, esboçaram sorrisos acompanhados de expressões faciais cómicas, mas o rapaz voltou a dizer, como que em sua defesa «… é verdade, é assim que as coisas funcionam… e não brincadeira de carnaval!»
Não é, mas até aprece…

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