A 6 de Janeiro, a maior parte das Igrejas Cristãs, celebram a festa dos
Reis. Em termos litúrgicos, a Igreja Católica, em Portugal, assina-la a festa da
Epifania (que quer dizer manifestação do Senhor) ou vulgarmente apelidada de
visitação dos Magos, no Domingo seguinte, se a data não coincidir com um Domingo.
Esta festa tem na sua origem referências bíblicas, que ao longo dos séculos
foram sendo acrescentadas com pormenores da tradição cristã.
O evangelista São Mateus, aquele que narra mais pormenorizadamente o
nascimento e infância de Jesus, refere:
Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do Rei Herodes, chegaram a
Jerusalém uns Magos vindos do oriente. E perguntaram: “onde está o Rei dos
Judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.” (Mt 2 1-2).
Como se vê, os Magos não são quantificados, não se lhe conhece nome, nem são
apresentados como Reis. Porém, na tradição cristã foi ganhando forma a ideia de
que estas figuras seriam Reis, em número de três e se chamariam Belchior,
Gaspar e Baltazar.
Muito provavelmente, ao denomina-los por Magos, o evangelista pretendia
indicar que se tratavam de Sábios ou Sacerdotes, estudiosos dos astros e dos
escritos proféticos da antiguidade. Assim o faz crer, a forma como tiveram
conhecimento do nascimento de Jesus, através da identificação de uma estrela
que lhes havia de indicar o lugar onde teria nascido o menino.
A ideia de que seriam Reis aparece na tradição cristã, muito provavelmente,
por influência da interpretação teológica do episódio da visitação.
De facto, a Igreja diz que o menino Jesus – o Rei do Universo – se quis
manifestar em primeiro lugar aos mais humildes do povo de Israel, representados
na figura dos pastores. Mas que de seguida, a quando da visitação dos Magos, se
manifestou aos gentios (estrangeiros e não crentes) para mostrar que tinha
nascido para salvar toda a humanidade e submeter ao seu domínio todos os reinos
e potestades da terra.
Daí que, na tradição, a figura dos Magos tenha sido associada à de Reis, que
governavam regiões circunvizinhas (do oriente) e que naquela ocasião terão
vindo prestar vassalagem ao Rei dos Reis.
Nessa altura, para venerar a divindade daquele menino, ter-lhe-ão também oferecido
presentes.
"E entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se,
adoraram-no; e abrindo os cofres ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e
mirra" (Mt 2 11).
Como se verifica neste trecho do evangelho, São Mateus refere que os Magos
ofereceram ao menino presentes, com três naturezas físicas distintas, ouro,
incenso e mirra.
Deste dado pode ter resultado a ideia de que número de Magos seria igual ao
da variedade dos presentes, ou seja três, cada um deles ofertando um dos tipos
de presente. Há no entanto outras teorias para fundamentar aquela
quantificação, que associam o número de Magos, a reinos de regiões vizinhas.
Nesta panóplia de hipóteses há até quem arrisque a personificação dos
presentes, sugerindo que o ouro foi oferecido por Belchior, que o incenso terá
sido oferecido por Gaspar e que mirra terá sido ofertada por Baltazar.
Quanto aos presentes, propriamente ditos, cada um deles tem um significado
doutrinal: o ouro foi oferecido ao menino como sinal da sua realeza, o incenso
como sinal da sua divindade e a mirra como sinal da sua natureza humana.
(Noutra ocasião, quiçá para o ano
[!], abordarei as tradições ligadas a esta festa. Um bom dia de Reis para todos
– ou pelo menos o que resta dele).