Ao
contrário do que poderia ser espectável esta publicação não aborda nenhuma
tradição ou festejo carnavalesco, nem nenhuma das suas exuberantes ou modestas manifestações.
Nesse aspeto, felizmente, até não faltariam eventos e usos que merecessem aqui uma
referencia, mas o que está na origem destas linhas é uma conversa entre um adolescente
e o seu pai a propósito do carnaval, que tem tudo e quase nada, a ver com o mesmo.
Pois
bem, seguem pai e filho numa viagem citadina de autocarro. O diálogo entre os
dois faz-se a espaços, de forma descontraída, até que do exterior algo leva o
pai, um homem de meia-idade, a fazer uma referência á forma como festejava o
carnaval quando tinha a idade do filho, que aparentava não ter mais que treze
ou catorze anos.
Enquanto
o pai falava, o filho olhava-o com entusiasmo e pontoava aqui e ali os relatos
do pai com sorrisos de circunstância.
A
determinada altura, na sequência de um relato a propósito de uns arremessos de
água entre gaiatos, muito frequentes nos entrudos de antigamente e como que em
jeito de epílogo daquela conversa o progenitor dirige-se ao descente nestes
termos: «como vês antigamente as coisas eram muito mais simples, mas as
crianças divertiam-se muito no carnaval…».
Entretanto,
autocarro estava imobilizado numa paragem para a entrada e a saída de passageiros
e o filho aproveitou aqueles momentos de maior quietude no trabalhar do motor, para
responder ao comentário do pai, de forma audível e algo inesperada, ei-la «…
ainda que quiséssemos divertir-nos como antigamente não o podíamos fazer, tudo
nos é proibido! Vê bem, este ano, na escola, até proibiram o uso de serpentinas
e confetes. O diretor justificou a ordem com a falta de funcionários, que mal
chegam para limpar as salas de aula…»
Dois
passageiros que seguiam sentados de frente para pai e filho, pareceram ficar surpreendidos
com a resposta do miúdo e trocaram entre si olhares interrogadores. Também
surpreendido pareceu ter ficado o pai que inquiriu o adolescente a propósito da
sua resposta, mas em termos que os circundantes não perceberam porque o autocarro
reiniciou a sua marcha e tornou pouco percetível as expressões de um e de
outro.
Passou
talvez um minuto, até que, encontrando-se de novo o autocarro parado, se voltou
a ouvir a voz do miúdo com clareza e a rematar a conversa nestes termos «… é
verdade pai! Quando realizamos alguma atividade nos espaços públicos lá da
escola, por exemplo no átrio de entrada, recebemos logo uma vassoura, uma pá e
um saco do lixo, com o recado de que devemos deixar tudo limpo e arrumado»
O
pai, e os dois da frente, esboçaram sorrisos acompanhados de expressões faciais
cómicas, mas o rapaz voltou a dizer, como que em sua defesa «… é verdade, é
assim que as coisas funcionam… e não brincadeira de carnaval!»
Não
é, mas até aprece…