terça-feira, 1 de maio de 2012

Caos nas lojas do “Pingo Doce”

Felizmente nunca na minha vida experimentei a sensação de viver num país em estado de sítio, ou lá próximo. As imagens de pessoas a açambarcar bens essenciais, sempre me foram dadas pela televisão e diziam respeito a uma realidade que, repito, felizmente nunca foi a minha.
Nunca tinha experimentado essa sensação até hoje, mas hoje aconteceu.
Ao entrar circunstancialmente numa loja da cadeia “Pingo Doce”, para efetuar uma daquelas compras de ocasião, dei por mim a viver num qualquer país em situação de emergência, em estado guerra eminente. Uma loja, de média dimensão, mas que tinha no seu interior seguramente 4 centenas de pessoas. Mal se  podia circular. As filas para as caixas de pagamento estendiam-se em forma de serpente por todos os corredores e pelos espaços mais improváveis da loja. Cada pessoa na fila de espera tinha ao seu lado volumes e mais volumes de produtos. Produtos alimentares, de higiene e tudo o que é essencial á sobrevivência. Os característicos carros de supermercado eram raros e as compras eram transportadas em contentores improvisados: caixotes de papelão, sacos de ráfia e até caixas de fruta da própria loja.
Um ambiente caótico com pessoas esbaforidas que se lamentavam pela falta de produtos. Prateleiras e expositores completamente vazios, onde apenas se via o preço dos produtos que lá tinham estado expostos. Enfim uma situação inacreditável.
A minha mulher, pouco depois de entramos na loja, percebeu o porquê daquela confusão quando leu um panfleto promocional da cadeia que anunciava descontos de 50% para compras de valor superior a 100,00€. Ela quis voltar imediatamente para trás, até porque temia pela nossa integridade física.
Eu resisti e com a minha filha pela mão fiz questão de viver este momento que se não é tristemente histórico para o nosso país pelo menos é inédito. E lá andei cerca de 10 minutos mergulhado na triste realidade deste nosso Portugal do século XXI.

1º de Maio – Dia do Trabalhador

Hoje lembra-se o trabalhador - aquele que trabalha – e celebra-se o ato de trabalhar, como um direito que assiste a todos cidadãos e que deve ser exercido em condições dignas e respeitadoras da condição humana.
Foi precisamente a busca dessa dignidade que levou ativistas dos direitos dos trabalhadores a empreenderam no final do século XIX, nos Estados Unidos e em França, uma luta na defesa por uma jornada de trabalho com oito horas diárias. Os acontecimentos associados a essas lutas, como greves e grandes manifestações, inspiraram a comemoração deste dia à escala mundial.
Não deixa de ser espantoso que na atualidade, passado mais de um século, se assista a um movimento regressivo das conquistas dos trabalhadores de então.
Por isso, hoje, mais do que nunca, faz todo o sentido celebrar o "Dia do Trabalhador". Celebrar os direitos daqueles que trabalham; celebrar os direitos daqueles que queriam trabalhar, mas que não têm trabalho; e também, celebrar os direitos daqueles que já fizeram uma vida de trabalho.
Este é o dia para dizer bem alto, que não faz qualquer sentido destruir os alicerces sobre os quais se construiu a nossa sociedade.

Miguel Portas


Helena Sacadura Cabral, mãe de Miguel Portas, no “Delito de Opinião” a propósito da morte do filho:

Acabei como devia, entregando-o nas mãos de quem mo emprestou

sábado, 28 de abril de 2012

Alunos de Tabuado pensam como gente grande




Na sequência da cerimónia de lançamento da primeira pedra da obra de construção do novo cemitério de Tabuado, a Escola EB1 do Ladário, numa iniciativa plena de oportunidade decidiu abordar com os alunos a importância da vida.
Nesse âmbito os alunos concluíram que “todos os seres vivos têm a mesma condição à nascença, distinguindo-se apenas pelo percurso que fazem ao longo da sua vida, pelo caráter e pelas suas capacidades e todo o processo de existência humana culmina com a morte, condição igual a todos os seres vivos.
Todo o ser vivo requer cuidados para uma vida mais longa: regar, alimentar, respeitar, proteger, amar...”.
Após uma breve reflexão sobre o tema, os alunos concluíram que “a vida é como as estações do ano, a primavera ligada à nascença e à infância e o inverno à velhice e à morte”.
Na sequência desta reflexão foi elaborado um documento onde foram compiladas as respostas dos alunos a dois pontos de discussão “o cemitério visto aos olhos de uma criança” e “o comportamento que devem ter quando visitam um cemitério”.
Para não me alongar abstenho-me de reproduzir aqui o conjunto das respostas dadas, mas podem crer que são surpreendentes pela consciência cívica que revelam e pela diversidade de conceitos que refletem.
Os alunos concluíram este trabalho dando largas ao seu poder criativo... Uma verdadeira delícia!
Parabéns a toda a comunidade educativa!

Novo Cemitério de Tabuado


Estão finalmente em marcha os procedimentos que levarão à construção do novo cemitério da freguesia de Tabuado. Quis o destino que a minha pessoa tivesse uma intervenção de circunstância na cerimónia de lançamento da primeira pedra. Nesta, como noutras ocasiões, apesar dos gravadores, o relato feito por outos, nem sempre corresponde rigorosamente àquilo que por nós foi dito. Assim, parece-me pertinente que deixe aqui para memória futura as palavras que proferi na ocasião.

Exmo. Senhor, Presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses;
(...)
Por força da ausência da Sra. Presidente da Junta de Freguesia Tabuado, Sra. Professora Maria de Fátima Vasconcelos, que aqui não pode estar presente por motivos de ordem pessoal, cabe-me a mim, na qualidade de Vogal da Junta e seu substituto legal, saudar-vos de forma muito fraterna e agradecer a vossa presença nesta cerimónia de lançamento da primeira pedra na obra de construção do novo complexo mortuário da freguesia de Tabuado.
Quis o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses, Sr. Dr. Manuel Moreira, assinalar de forma solene o início desta obra com esta cerimónia. Muito nos honra que assim tenha decidido, pois este ato tem um significado muito especial, não só para a Junta de Freguesia de Tabuado, mas também para todos Tabuadenses e amigos desta terra, pois ele representa o início do fim de um processo que se arrasta há mais de quarenta anos nesta freguesia: a construção de um novo cemitério.
Se me permitem uma breve sumula histórica de todo este processo, até porque estamos numa terra com história, começaria por dizer, que o atual cemitério desta freguesia, como os demais na generalidade do mundo rural em Portugal, se situa numa zona contígua à Igreja, numa prática ligada à tradição do culto cristão da idade média, de enterrar os mortos em sítios muito próximos dos locais de culto.
Com a evolução dos tempos esta tradição foi-se desvanecendo e a construção de novos cemitérios deixou de obedecer àquela regra de inspiração marcadamente religiosa e estas infraestruturas públicas passaram a ser implantadas em locais que respondem a preocupações de natureza diversa, como sejam questões ambientais, de saúde pública e urbanística. Com esta evolução permitiu-se que os espaços de enterramento passassem de locais de reduzida dimensão, muitas vezes sem condições adequadas, para novos espaços, com dimensões apropriadas, mais funcionais e também por isso mais dignos.
Mas, em muitas terras, como em Tabuado, os enterramentos continuaram a ser efetuados nos antigos cemitérios. Porém esses espaços deixaram de responder às necessidades das populações, pois tornaram-se locais exíguos, quero dizer tornaram-se pequenos (apertados), para responder ao número de enterramentos que era necessário lá realizar.
Pois bem, este problema foi pela primeira vez identificado na nossa terra, na década de setenta do século passado e logo aí foi determinado que a solução do problema passaria pela construção de um novo cemitério num local diferente do atual.
O processo de escolha e disponibilização de um novo local evoluiu com avanços e recuos, até que foi concluído com a construção de uma nova infraestrutura no lugar do Peso, que dista daqui cerca de 500 metros. Sucede que, por razões pouco percetíveis em termos de gestão pública, mas que não importa aqui abordar, o novo cemitério, depois de construído, nunca chegou a ser utilizado, continuando os enterramentos a ser efetuados no atual, com as condições de utilização do mesmo a degradarem-se progressivamente.
Neste contexto, quando o atual executivo da Junta de Freguesia tomou posse, foi confrontado com um projeto do anterior executivo que previa o alargamento do cemitério atual para terrenos da paróquia.
Confrontado com aquele projeto, o executivo, como se impunha, contactou o pároco de então, no sentido de saber da sua autorização para a concretização do referido alargamento. O Reverendo Padre Joaquim Pereira da Cunha disse-nos, nessa ocasião, que todo esse processo só poderia resultar de um equívoco, dado que nunca teria dado consentimento para a realização da obra que lhe estávamos a apresentar, nem de qualquer outra que previsse o alargamento do cemitério para terrenos da paróquia.
Ainda assim e no sentido de dissipar dúvidas e rumores que começaram a instalar-se quanto a uma possível autorização para a realização da obra por parte da Diocese, autorização essa que estaria a ser inviabilizada pelo Pároco, a Junta, com conhecimento deste, decidiu consultar diretamente o Sr. Bispo do Porto, para saber se a decisão da Diocese era concordante com a do Pároco, ou se por parte daquele Órgão Eclesiástico, haveria abertura para encontrar algum tipo de solução que fosse de encontro à resolução do problema da freguesia.
A resposta do Sr. Bispo, fundada num parecer emitido pela Comissão de Infraestruturas da Diocese foi perentória: a diocese, tal como o pároco, não autorizava o alargamento do cemitério antigo para terrenos da paróquia, porque isso em nada dignificaria o bem edificado mais precioso da freguesia de tabuado: a sua Igreja Românica.
Confrontado com essa decisão e no sentido de encontrar uma solução para aquele que identificamos ser o problema que merecia uma resolução mais imediata na freguesia, o executivo lançou-se na procura de um espaço onde pudesse ser construído um novo cemitério que fosse de encontro aos interesses da população.
Sabendo que algumas das razões evocadas para a não utilização do cemitério no lugar do Peso se prendiam com a sua localização, elegemos como critérios principais na procura de um novo local a sua localização nas imediações da Igreja, os bons acessos e que a sua dimensão fosse tal que não inviabilizasse futuros alargamentos.
Foi um trabalho muito árduo, que teve várias frentes e que exigiu da nossa parte muita descrição, respeito para com os nossos interlocutores e muita firmeza.
Depois de colocadas várias hipóteses, encontrámos o terreno que queríamos. Contactamos os proprietários e conseguimos, a muito custo, disponibilidade da sua parte para negociar. Foi então que solicitamos a ajuda necessária da CMMC, para a disponibilização dos meios financeiros e, em parceria, negociámos o terreno.
Foi uma negociação longa e muito difícil, na qual se empenhou particularmente o Sr. Presidente da Câmara, Dr. Manuel Moreira, mas que teve um desfecho feliz.
A CMMC adquiriu, em 07 de Fevereiro de 2007, pelo preço de 90.000,00€, esta parcela de terreno, com 5.795m2, para aqui se construir o complexo mortuário da freguesia de Tabuado, onde se incluiu a construção de um novo cemitério.
O passo decisivo estava dado mas outros se lhe seguiram, igualmente importantes e bastante morosos. Falo das questões de natureza jurídica e administrativa, relacionadas com a legalização do terreno, em termos que permitissem a construção desta infraestrutura. Mas com o tempo necessário, que é sempre muito para quem espera, o processo foi concretizado.
Seguiu-se a elaboração do projeto, mais uma vez com a colaboração fundamental da CMMC, que através dos seus serviços técnicos procedeu à sua elaboração. Este procedimento, que voltou ter um acompanhamento direto do Sr. Presidente da Câmara, foi, naturalmente, bastante demorado, por um lado devido às soluções técnicas e estéticas que foi necessário estudar e por outro, devido ao elevado volume de trabalho a que os serviços técnicos da CMMC têm que dar resposta.
Certo é que fruto de um diálogo quase permanente entre técnicos e autarcas o projeto foi elaborado e a sua versão final foi-nos apresentada em termos que correspondiam aos nossos objetivos, vertidos num projeto arrojado, funcional, bonito e que dignifica e prestigia a nossa terra de Tabuado e o nosso concelho de Marco de Canaveses.
Porém, como é de todos sabido, o país viu-se mergulhado numa financeira e económica, provocada por desequilíbrios orçamentais, que obrigaram inclusive o país a recorrer a ajuda externa, ajuda essa condicionada à execução de um plano de reequilíbrio das contas públicas.
A persecução deste plano está a obrigar o Estado a por em prática uma política de racionalização de gastos públicos, que afeta os diversos sectores públicos e com natural incidência nas autarquias locais que se viram privadas nestes dois últimos anos de percentagens significativas de verbas a que lhe provinham do orçamento geral do estado.
Estas condicionantes financeiras obrigaram a ter que repensar, mais uma vez, o nosso projeto. Foi neste contexto que em diálogo com CMMC, decidimos reformular o projeto inicial, para o tornar exequível nesta fase em termos financeiros. Sem diminuir a qualidade nem os princípios estruturantes da obra, decidiu-se construir a mesma por fazes. Assim nesta primeira fase vai construir-se o novo cemitério, com as mesmas características, mas com dimensões mais reduzidas que o inicialmente previsto. Ainda assim capaz de responder às necessidades da freguesia por muitos anos. Nesta fase construir-se-ão também os respetivos acessos. Numa segunda fase concluir-se-á a construção da parte restante do complexo, com a edificação da casa mortuária.

Sr. Presidente (...)
Minhas senhoras e meus senhores,

O que nos trás aqui hoje é a certeza da execução de uma obra há muito reclamada por esta terra e que muito a vai dignificar. Construir um complexo mortuário, com as características do que aqui vai ser edificado, traduz o ser e o sentir da gente da nossa terra, que prepara no presente o seu futuro, mas que alicerça este presente no seu passado, que pretende preservar, nas suas mais diversas vertentes em condições de dignidade absoluta. Nessa medida tornar mais dignas as condições de um cemitério representa o apreço por todos os que nos antecederam e o valor incalculável que para nós, enquanto comunidade, tem a sua memória.

Sr. Presidente (...)
Minhas senhoras e meus senhores,

È chegado o momento. Chegou o momento de por fim a um assunto que incomoda esta terra há demasiados anos; chegou o momento de dizer aos incrédulos, que podem acreditar; chegou o momento de transformar o sonho em realidade.

Sr. Presidente, meus senhores e minhas senhoras;

Somos chegados ao momento em que é possível afirmar que neste local se vai construir o complexo mortuário de Tabuado; complexo este, que originará o aparecimento de uma nova centralidade na freguesia, e que compreende a construção de um cemitério com capacidade, para 96 campas devidamente infraestruturadas e 4 espaços para jazigos em altura. Um cemitério moderno, funcional, com espaço aprazível e digno; um cemitério num local acessível e de horizontes abertos, que promova a dignidade da pessoa humana e que estimule a igualdade nessa condição, com respeito pela diversidade de origens e credos.
Um complexo mortuário que compreende ainda a construção de uma casa mortuária, com uma sala com capacidade para velar dois corpos em simultâneo e a possibilidade de ali realizar serviços religiosos; casa mortuária que compreende também uma sala de apoio e sanitários adaptados a pessoas com mobilidade limitada. Um complexo mortuário que compreende ainda a construção dos acessos e parque de estacionamento e uma casa de apoio para concessionar.
Uma obra que é necessária e mais uma vez repito, vai dignificar esta freguesia de Tabuado, o concelho do Marco de Canaveses, a Junta de Freguesia de Tabuado e Câmara Municipal do Marco de Canaveses.
Mas uma obra que envolve meios financeiros avultados e para a qual todos são chamados a contribuir e que só poderá realizar-se com a colaboração e apoio de todos.

Sr. Presidente (...)  

Termino agradecendo a V. Exa. em nome da Junta de Freguesia de Tabuado a realização desta cerimónia, que como disse no início, muito nos honra; agradeço-lhe todo o apoio técnico e financeiro prestado pela Câmara Municipal de Marco de Canaveses à realização deste projeto; e em particular agradeço o seu apoio pessoal e a preocupação que tem manifestado no acompanhamento deste projeto.
Em termos pessoais, e na qualidade de Tabuadense, formulo o desejo de que V. Exa. se sinta tão feliz quanto eu, neste dia tão importante para a terra, que a ambos nos serviu de berço.

Muito obrigado.

sexta-feira, 20 de abril de 2012