Na Líbia, fruto da revolta popular contra o Coronel Muammar Kadafi, começa a ganhar forma um rio em que corre o sangue das vítimas do conflito. Ao certo, ninguém sabe qual é a dimensão exacta do drama humano provocado por aquela espécie de guerra civil, não declarada, em que aquele país do Norte de África se viu mergulhado.
Comparando a revolta que eclodiu na Líbia com as que se lhe antecederam na Tunísia e Egipto, poder-se-á perguntar: o que distingue esta das outras para que o número de vítimas seja já, nesta altura do conflito, muito superior?
Na minha opinião tudo tem a ver com a forma de organização dos Estados e com estruturação das forças de segurança e militares. Quero com isto dizer que nos outros dois países, Tunísia e Egipto, as forças de segurança e militares, sobretudo o exército, apesar de estarem submetidas ao poder político, eram organizacionalmente estruturadas e obedeciam a uma hierarquia autónoma e bem definida. Foi por isso que quando a estrutura militar decidiu ficar neutra, não investindo contra a população, se pouparam seguramente muitas vidas. No caso da Líbia parece-me que o grau de autonomia organizacional das forças policiais e militares é muito menos perceptível. Daí que, o ainda Chefe de Estado, se permita comandar de forma “musculada” estruturas militares (que não sei se a sua totalidade) e as faça investir contra os revoltosos, transformando esta revolução num conflito que assemelha a uma espécie de guerra civil, em que perda de vidas humanas e muito mais significativa.
E que futuro terá a Líbia?
Creio que o caminho só pode ser um: o de um Estado democrático, ou semi-democrático, onde possa coexistir a democracia, tal como a conhecemos, e uma espécie de poder tribal, ainda reminiscente naquele país.
O que parece indubitável, é que não se antevê futuro para um regime em que um Chefe de Estado diz que lutará até à morte pelo país, quando do outro lado da contenda está uma grande parte da população desse mesmo país.
Um líder só o é, enquanto é querido pelos liderados, tudo o resto é uma questão de tempo... Mesmo que a comunidade internacional invente uma solução para este conflito semelhante à que encontrou para a primeira guerra do Iraque.
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