Hoje é «Dia de Portugal, de Camões e das
Comunidades Portuguesas».
A 10 de junho enaltece-se o passado glorioso do
povo português, os feitos das suas comunidades espalhadas pelo mundo e exalta-se
o poeta Luís de Camões.
Mas quando teve origem a comemoração do dia 10 de Junho em Portugal?
Para encontrarmos resposta para esta questão temos que
recuar no tempo mais de um século.
Pode dizer-se que comemoração do dia 10 de Junho tem a
sua referência mais remota no ano de 1880, quando, naquele dia, os militantes
do Partido Republicano Português comemoraram o tricentenário da morte do poeta,
transformando esse acontecimento numa das primeiras manifestações contra a
Monarquia.
Após a proclamação da República, em 5 de outubro de 1910, o país assistiu a muitas
mudanças no plano político, social e económico. Nos trabalhos legislativos dessa
época e num contexto de mudança da ordem vigente, foi publicado um decreto que
definiu o conjunto dos feriados nacionais, decreto esse, que procedeu à
eliminação de alguns até então vigentes, de carater religioso, para reduzir a
influência social da Igreja Católica e contribuir para a criação de um Estado
laico.
Nessa época, Luís de Camões era tido como um génio da Pátria e gozava de
bastante simpatia entre os republicanos que continuavam a atribuir grande importância
ao 10 de junho, dia da sua morte, em 1580. Nesse dia, invocavam-se com particular
enfâse as glórias camonianas, sem no entanto elevar a data à categoria de
feriado nacional.
A propósito de Camões, autor de «Os Lusíadas» (quiçá a obra mais emblemática
da literatura portuguesa), faço aqui um breve parêntesis, só para dizer que o
poeta, à data da morte, era pobre e foi nessa condição que foi enterrado numa campa
rasa. Crê-se que com o terramoto de 1755 ter-se-á perdido o rasto dos seus
restos mortais, sendo que aqueles que jazem no seu túmulo, na igreja do Mosteiro
dos Jerónimos (onde as mais altas individualidades que visitam o país costumam
depor flores), só por feliz coincidência serão os seus. Esta realidade muito
dificilmente poderá comprovada cientificamente dado o facto de se saber muito
pouco a cerca das relações familiares do poeta o que inviabiliza a realização
de testes de ADN.
Mas voltando ao 10 de junho, a comemoração
da data ganha especial preponderância durante o Estado Novo, sendo o Dia de Camões decretado
feriado nacional e como tal comemorado em todo o país.
No entanto, ao contrário dos republicanos, que pretendiam um Estado laico, os
dirigentes do Estado Novo, particularmente o Presidente do Conselho, António de
Oliveira Salazar procurou transformar Camões num símbolo nacionalista e
propagandístico das ações do regime.
A partir de 1944, o «Dia de Camões e de Portugal» vê a sua designação alterada
para «Dia de Camões, de Portugal e da Raça», sendo que este último apelido, criado
por Salazar na inauguração do Estádio Nacional, se inseria numa política de cultivo
e engrandecimento do espirito nacionalista.
Com início da guerra colonial, que em
muito havia de contribuir para o fim do Estado Novo, a comemoração do dia 10 de
junho passou a ser utilizada para homenagear as forças armadas e condecoram heróis
das campanhas no ultramar.
Com o 25 de Abril de 1974 e
a implantação daquela que muitos apelidam como 3ª República, o feriado manteve-se,
tendo o entanto perdido a característica de celebração de feitos bélicos.
Em 1978, a data vê de novo
a sua designação alterada passando agora a apelidar-se de «Dia de Portugal, de
Camões e das Comunidades Portuguesas», honrando passado glorioso do povo
português, a nossa diáspora e a memória do poeta.