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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Roupa blindada para crianças

Esta notícia, não é de todo surpreendente, mas ainda assim deixa-me a pensar.
Não me repugna a ideia de que em sociedades ditas violentas, como as da América do Norte, as pessoas procurem proteger-se o melhor que podem.
Quando os meios institucionais de ordenamento social – sistemas de segurança e justiça – são ultrapassados pela delinquência ou simplesmente pelas atitudes desviantes do comportamento humano, é compreensível que as pessoas acautelem o que têm de mais precioso, a vida.
É compreensível que assim seja, mas não é admissível que a isso sejam obrigadas.
Se assim não for que sentido faz a Declaração Universal dos Direitos do Homem? Leia-se o seu artigo 1º:
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.
O facto do estilista colombiano, Miguel Caballero, ter desenhado e se preparar para comercializar uma coleção de vestuário e acessórios blindados para crianças, pode aos olhos da sociedade parecer uma atitude consequente, mas nunca esta a poderá encarar como normal. Nunca.
Já alguém imaginou, numa destas manhãs, ter que perguntar a um filho (ou filha) se já vestiu o blindado, com a mesma naturalidade que se lhe pergunta se já vestiu uma camisola interior?
Não, claro que não.
Mas o simples facto de haver locais neste planeta onde essa prática já faz parte do quotidiano dá-me que pensar...

domingo, 30 de dezembro de 2012

Notícias da Assembleia de Freguesia de Tabuado

Na passada sexta-feira teve lugar mais uma reunião da Assembleia de Freguesia de Tabuado, a última deste ano de 2012.
Nesta reunião, que voltou a ter uma assistência diminuta – apenas dois fregueses – foram aprovados, por unanimidade, as opções do plano, o orçamento e o mapa de pessoal para o ano de 2013.
Das linhas de trabalho apresentadas pelo Executivo para o próximo ano destacaria quatro: (I) a conclusão da construção do novo cemitério, (II) a intervenção, conservação ou remodelação de equipamentos públicos e rede viária, (III) a requalificação do centro cívico da freguesia na extensão que compreende a zona envolvente à Igreja Românica e o Largo das Capelas e (IV) a criação de um espaço tipo museu para preservação e divulgação do património histórico e sociocultural da freguesia de Tabuado.
Pelos dados apresentados pelo Executivo da Junta pôde perceber-se que a execução deste programa vai depender em muito de uma boa execução orçamental no campo da receita, na medida em que todos estes projetos serão executados com recurso a autofinanciamento.
Das intervenções dos membros da Assembleia de Freguesia registo apenas para uma em que o Executivo foi alertado para necessidade de limpeza e manutenção de alguns equipamentos públicos, por forma a manter a sua operacionalidade e evitar que, pelo seu uso menos frequente, possam ser confundidos com bens do domínio privado.
Como é habitual eu estive presente nesta reunião e aproveitei a sua fase final lançar um repto à Assembleia de Freguesia no sentido desta promover um evento tipo “Assembleia Aberta aos Jovens de Tabuado”.
Trata-se de uma ideia que me acompanha há anos mas que nunca tive oportunidade de partilhar com Assembleia de Freguesia. Com esta iniciativa pretendia tão-somente que aquele Órgão se debruçasse sobre a possibilidade de organizar um encontro, em todo semelhante a uma reunião da Assembleia de Freguesia, mas para o qual fossem especialmente convocadas as novas gerações de Tabuadenses. Nesse encontro a Assembleia de Freguesia teria oportunidade de se dar a conhecer aos mais novos, explicando a suas funções e quiçá partilhando com eles um balanço das suas atividades. Mas, na minha perspetiva, esse encontro serviria, acima de tudo, para ouvir os Tabuadenses mais novos. Para saber das suas expectativas em relação ao seu futuro e ao da sua terra; constituiria uma oportunidade para promover a participação cívica das novas gerações e potenciar uma aproximação de pontos vista entre os eleitos da freguesia e os seus eleitores (e futuros eleitores).
A ideia foi assim entendida por alguns dos presentes. Houve também quem sugerisse derivações no modelo do evento. No entanto logo se levantaram uma série de questões de âmbito logístico à volta da organização do mesmo. Por isso, não sei se ideia passará disso mesmo, mas a semente foi lançada.
É que numa altura em que (como tudo leva a crer) Tabuado viu assegurado, em termos administrativos, um caminho autónomo (ao contrário de muitas outras freguesias) importa preparar o futuro para que a terra possa tirar partido dessa circunstância.
A meu ver o futuro da freguesia dependerá em boa medida da preparação das pessoas e da sua vontade para trabalhar em prol das causas coletivas e públicas. Por isso, em termos estratégicos, torna-se necessário envolver, quanto antes, as novas gerações neste processo.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Outro problema para Portugal resolver: a demografia

Nos próximos anos o nosso país vai lutar até à exaustão para resolver o problema da dívida pública e privada.
Mas se algo não for feito e neste país não existirem Homens que ousem pensar a nossa existência coletiva a longo prazo outro problema gravíssimo nos assolará dentro de uma ou, no máximo, duas décadas. E na resolução desse problema não haverá troika que nos valha. Falo da questão demográfica.
Não será necessário que passem muitos anos para que a pirâmide demográfica (etária) do nosso país esteja completamente deformada. A manter-se o “status quo”, a sua base continuar-se-á a estreitar, porque os nascimentos serão cada vez em menor número. Estes ficarão muito aquém do necessário para promover uma substituição geracional sustentada e temo que nos transformemos numa sociedade onde predominem as pessoas idosas, potencialmente menos ativas.
O problema será ainda mais dramático se o sistema de segurança social não resistir, ou for profundamente afetado pela evolução demográfica negativa. Daqui a duas ou três décadas a nossa sociedade já não terá condições para promover uma solidariedade intergeracional dita normal, e muito menos invertida. Os mais novos não serão suficientes para garantirem um mínimo de bem-estar aos mais idosos, finda que seja a sua vida profissional, nem estes poderão ser solidários com os mais novos, auxiliando-os com os rendimentos das suas reformas e pensões de velhice, como acontece nos dias de hoje.
O problema é grave e carece de ser colocado, em definitivo, na agenda de quem tem a responsabilidade de conduzir os destinos do país. É claro que, se for por vontade desses, o assunto será sempre empurrado para quem vier a seguir, tal como o foi a questão da dívida. Mas como este problema é, no meu entender, muito mais grave que o da dívida, espero que os especialistas que o estudam tenham a coragem de o colocar na ordem do dia, para que a sociedade o possa discutir e todos possam contribuir com ideias para a sua resolução.

A casa do Pai Natal, infelizmente, não se ilumina em 2012

Muitos leitores têm procurado notícias sobre “a casa do Pai do Natal” que todos os anos, por esta altura, com as suas milhares de luzes alegrava os olhos e corações, de miúdos e graúdos que passavam pelo alto da serra, na freguesia de Baguim do Monte, na confluência dos Concelhos de Gondomar e Valongo.
Só nos últimos dias foram mais de trezentos os leitores que procuraram informação a propósito deste assunto. Todos manifestam estranheza porque neste ano de 2012 a casa do Sr. Camilo e da Dª. Filomena não se encontra iluminada.
Para informação de todos deixo aqui uma notícia triste. Infelizmente, neste ano, a casa do Pai Natal não está iluminada porque recentemente faleceu a Dª. Filomena Pereira, a grande dinamizadora do evento.
Porque me incluo no rol daqueles que todos os anos passavam com a família pela rua António Correia de Oliveira, para ali viver – sobretudo com os mais pequenos – largos minutos de encanto, deixo aqui uma homenagem muito merecida à pessoa da Dª. Filomena.
É público que esta Senhora contribuiu ao longo dos anos para que muitas famílias e principalmente muitas crianças tivessem um Natal mais feliz. Era popular a sua iniciativa de solicitar aos mais pequenos que escrevessem uma carta ao Pai Natal e a colocassem na caixa de correio que tinha sempre um lugar de destaque na sua casa iluminada. Na resposta a essas cartas, a expensas próprias ou com colaboração de Instituições, ajudou muita gente a ter uma vida melhor.
Por tudo isto e pelos momentos de ternura que foi proporcionando ao longo dos anos a milhares de pessoas (sobretudo crianças), a Dª. Filomena Pereira é digna da nossa admiração e reconhecimento.
Aproveito a ocasião para deixar aqui uma palavra de conforto à família enlutada, de forma particular ao seu marido, Sr. Camilo Pereira, e aos seus filhos.
Para quem não sabe do que estou falar pode dar uma espreitadela aqui.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Elementar

Pedro Passos Coelho disse ontem que Portugal vai necessitar de duas ou três décadas para resolver o problema a dívida pública (e privada – acrescento eu). Tenho uma vontade muito grande de dizer que o primeiro-ministro está enganado, mas não posso afirmá-lo, porque temo que tenha algum fundamento o seu vaticínio.
É lamentável que, enquanto nação, tenhamos chegado a este ponto. Que, sendo um povo com identidade secular, não tenhamos sido capazes de exigir dos responsáveis pela gestão do país duas atitudes muito simples:
(I) Rigor na seleção e qualificação dos investimentos efetuados ao longo dos anos; e
(II) Uma planificação a pensar no futuro do país e não apenas nos quatro anos de cada legislatura.
Atitudes que um chefe de família minimamente previdente teria sem que para isso necessitasse de grandes avisos. Elementar!

sábado, 15 de dezembro de 2012

Em Ermesinde as rotundas estão de novo decoradas... É Natal!

A iniciativa, promovida pela Junta de Freguesia de Ermesinde, repete-se neste ano de 2012. Diversas rotundas (e outros espaços públicos) da cidade estão decoradas com motivos alusivos à época natalícia. As decorações têm inspiração variada, vão desde os tradicionais presépios às "rotinas" do Pai Natal... Tudo feito por estabelecimentos de ensino e coletividades locais, com recurso a materiais recicláveis.  
À Academia de Ensino Particular , que no ano transato foi distinguida com o prémio para a melhor decoração, este ano coube-lhe a embelezar o jardim da Junta. Numa visita ao local já pude identificar onde foram utilizadas as embalagens de leite vazias e as garrafas de plástico que a AR levou cá de casa. Muito bonito... Grande imaginação!
Neste ano, em que por motivos óbvios não há iluminação de Natal na cidade - a meu ver uma boa decisão - esta iniciativa vem desafiar-nos (talvez mais do que nunca) a viver esta quadra valorizando as coisas simples... Que nem por isso deixam de ser igualmente belas e admiráveis.
Parabéns aos promotores e a todos os participantes nesta iniciativa.

sábado, 8 de dezembro de 2012

VIII Encontro de Cânticos de Natal em Tabuado



Amanhã, dia 9 de Dezembro, vai realizar-se em Tabuado o “VIII Encontro de Cânticos de Natal”.
Este evento, organizado pela Junta de Freguesia de Tabuado, vai já na sua oitava edição consecutiva e reúne grupos corais da freguesia e de fora dela, que se juntam, a cada ano que passa, para reviver uma tradição da época natalícia – o cantar ao Menino Jesus.
O Encontro de Cânticos de Natal transformou-se ao longo dos anos num acontecimento que extravasa a simples componente musical e se converte num momento de partilha e convívio entre os diversos grupos participantes, que na sua maioria representam as forças vivas da freguesia e a população que assiste ao espetáculo.
A edição deste ano decorrerá, mais uma vez na Igreja Românica de Tabuado, tendo o começo agendado para as 14h.30m. Aos grupos da terra juntar-se-à o Coro da Universidade Sénior do Marco de Canaveses, convidado especialmente para esta edição.
De acordo com o que está anunciado, as atuações acontecerão por esta ordem:
Coro dos Alunos do Jardim de Infância das Cerdeiras
Coro dos Alunos da EB1 de Ladário
Coro do Centro de Convívio da Casa do Povo de Tabuado
Coro da Universidade Sénior do Maro de Canaveses
Grupo Coral da Associação Cultural e Recreativa de Tabuado
Grupo Coral da Paróquia do Divino Salvador de Tabuado

A seguir ao “Encontro de Cânticos de Natal” decorre o tradicional lanche/convívio para toda a população e visitantes.
Quem tiver oportunidade de não deixe de ir Tabuado, porque este evento é uma ótima forma de reviver o verdadeiro Espírito de Natal.

domingo, 22 de julho de 2012

Os incêndios florestais em Portugal

Nos últimos dias o nosso país tem sido flagelado, mais uma vez, pelos incêndios florestais. Esta calamidade vem-se repetindo, ano após ano, com custos económicos, ambientais e até com perda de vidas humanas.
O que me angustia, há anos, é aparente indiferença com que a nossa sociedade olha para este problema.
Os portugueses habituaram-se a conviver com as notícias dos fogos florestais, em épocas mais ou menos definidas no calendário e tirando as notícias de perdas de vidas humanas, tudo o resto se assemelha a peças de um circo mediático que todos os anos se monta em alturas definidas, tal como um acontecimento desportivo ou cultural. Esta espécie de rotina que se tem instalado ao longo de décadas na nossa sociedade tem levado a uma acomodação coletiva perante o drama dos fogos florestais. Isso é mau, muito mau.
Para esta situação muito terão contribuído as alterações estruturais que foram acontecendo no nosso país ao longo das últimas décadas, transformando-o num território com um número crescente de aglomerados urbanos e a consequente deslocalização das populações do mundo rural.
Esta dinâmica demográfica reflete-se na forma como a nossa sociedade encara a questão dos fogos florestais. Por um lado, como a calamidade atinge particularmente as zonas rurais o problema localiza-se geograficamente longe da zona de influência de uma parte, cada vez mais significativa, da população. As chamas vêm-se nas imagens televisivas mas não atingem as varandas nem os logradouros dos prédios citadinos e nessa medida uma grande parte da nossa população olha para o problema como espectador e não com um interesse sentimental particular, como o de um proprietário ou de um habitante das localidades atingidas. Por outro lado, a não convivência com a realidade rural, torna as populações menos sensíveis à questão económico-ambiental. Ouvir dizer que um pinheiro bravo leva 30 a 40 anos a criar, até que tenha valor económico, é um dado que as pessoas assimilam, mas que não complementam com uma imagem visual (diária) do crescimento lento das arvores, ao longo de décadas. Ouvir dizer que a área ardida atinge anualmente números elevadíssimos, ainda que possa ter impacto noticioso, não é mesma coisa que viver a experiência de percorrer montes e vales, completamente despidos de floresta e recordar os tempos em que os mesmos eram povoados por vegetação. Ouvir dizer que os incêndios destroem os ecossistemas, ainda que possa ter igual impacto, é diferente quando comparado com a realidade rural de quem não pode ir ao monte apanhar uma urze ou um azevinho e ouvir os melros, as rolas ou as cotovias... e ver raposas, ouriços-cacheiros ou carreiros de formigas.
Enfim, estou em crer que a ausência de contacto com a realidade física (e quotidiana) das florestas e do mundo rural, leva a maioria das pessoas a um estado de passividade cívica perante a questão dos fogos florestais, por via de se não sentirem diretamente afetados pelo problema. E volto a repetir, isto é mau, muito mau.
E o que é pode ser feito para alterar este estado de coisas? É preciso, antes de mais, investir na educação ambiental das populações. Estou a pensar, por exemplo, em campanhas de sensibilização para a necessidade de proteção das florestas, semelhantes àquelas que se desenvolvem no âmbito da prevenção dos acidentes rodoviários ou da separação do lixo para reciclagem. Com campanhas desse género, sistemáticas em termos temporais e que abarcassem uma componente educativa em áreas como a fauna e flora, poderiam potenciar-se práticas mais amigas da floresta, uma consciência cívica e ambiental que atenuasse a separação entre os aglomerados urbanos e o mundo rural e ainda a formação de uma consciência coletiva para a necessidade de defesa da floresta. Dessa forma, a nossa sociedade não seria tão indiferente aos crimes contra a floresta, que, a cada ano que passa, se vão sucedendo e aparentemente passam impunes.
Ao mesmo tempo também é necessário investir no ordenamento da floresta e tomar medidas de natureza jurídica, judicial e política que combatam os negócios que aparentemente gravitam à volta dos fogos: o imobiliário, o comércio de madeira e o dispositivo de combate a incêndios.
Estou convencido que medidas deste género poderiam contribuir para proteção dos ecossistemas, para promover um desenvolvimento mais harmonioso do país e para garantir a sustentabilidade de setores económicos que dependem da floresta, como por exemplo, o da indústria do mobiliário.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Portugal eliminado nas meias-finais do Euro 2012

Foto do "Jornal de Notícias"

Pronto! Portugal foi eliminado nas meias-finais do Euro 2012. A nossa seleção está de regresso a casa e a meu ver não há drama nenhum nisso porque no desporto há o perder e o ganhar... Para mim, nestes momentos, o importante é a atitude. E no jogo de ontem, nesse aspeto, a nossa seleção portou-se muito bem: lutou de igual para igual com os espanhóis. E quando assim é não é desonra nenhuma cair “aos pés” dos melhores. Honra aos vencidos e glória aos vencedores.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

A síntese da execução orçamental e a necessidade de alterar a rota.

A síntese de execução orçamental recentemente divulgada pelo Ministério das Finanças mostra que nos primeiros 5 meses do ano houve uma deterioração das contas públicas.
Os números publicados revelam que no período compreendido entre os meses de Janeiro e Maio a receita efetiva do Estado caiu 2,3%. O aumento da receita não fiscal, na ordem dos 7,9%, não foi suficiente para compensar a queda da receita fiscal que se cifrou em 3,5%. A contribuir para a esta derrapagem da receita estiveram os impostos indiretos com uma redução global na ordem dos 5,9% (com o IVA a cair 2,8%) e o IRC cuja cobrança baixou 15,5%.
Não obstante se ter registado uma redução de 7,3% nas despesas com pessoal e de 7,9% nas compras de bens e serviços, no mesmo período, a despesa do Estado aumentou, destacando-se o crescimento da rúbrica Juros e outros encargos (80,1%) e das prestações sociais, particularmente o subsídio de desemprego.
A evolução das contas públicas, marcada sobretudo pela quebra das receitas, torna mais complicado o objetivo de alcançar um défice de 4,5% no final de ano de 2012.
O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, diz que ainda é cedo para pensar em novas medidas de austeridade. No entanto, vai ganhando forma a ideia de que a manter-se esta meta para o défice, elas serão inevitáveis. A grande questão é esta: quem é que ainda pode suportar mais medidas de austeridade?
Os funcionários públicos, que em muitos casos viram a retribuição pelo seu trabalho reduzida em mais de 20%, em apenas dois anos? Provavelmente não.
Os pensionistas, a quem foi cancelado o subsídio de férias e natal? Certamente que não.
Então, preparem-se os outros... E os outros já todos sabemos quem são. Ao que parece, nesse rol “dos outros”, não estão incluídos os parceiros das parcerias público-privadas.
O facto é que muito boa gente vem dizendo há muito tempo (e particularmente desde a elaboração do Orçamento de Estado para 2012) que as metas constantes do pacto de reequilíbrio financeiro são inatingíveis no atual contexto económico. Por isso, têm solicitado ao executivo liderado por PPC, uma renegociação dos termos do acordo celebrado entre Portugal e a Troika, no sentido de que seja concedido ao nosso país um alargamento do prazo para a consolidação das contas públicas e uma diminuição da taxa de juro cobrado pelo empréstimo que nos foi concedido. Essa hipótese sempre foi negada pelos responsáveis governamentais e particularmente pelo primeiro-ministro que chegou a afirmar que as metas são para cumprir “custe o que custar”.
Ora, perante os factos que se vão conhecendo e a posição do primeiro-ministro, apetece-me dizer que firmeza na ação não deve ser confundida com irrealismo.
PPC deve atentar no que sucedeu a José Sócrates, a quem tanto criticou a ação política. A teimosia, quase birra pessoal, em protelar o pedido de ajuda internacional ia sendo fatal para o nosso país. Espero que idêntica circunstância não venha a repetir-se com o atual primeiro-ministro, agora com a negação da hipótese de renegociação das metas do défice, até porque, parece ser claro, que outros países intervencionados se preparam para renegociar os termos dos acordos que celebraram com os organismos internacionais, com vista a tornar exequíveis os respetivos planos de recuperação financeira e económica.
O primeiro-ministro tem-se mostrado determinado em fazer seguir o barco (o país) no rumo que julga ser o correto. No entanto PPC deve saber que a avaliação que os portugueses fazem do seu trabalho enquanto timoneiro do barco pode oscilar entre a admiração, por ter conseguido chegar ao porto de destino com a embarcação em bom estado e a tripulação feliz, apesar de exausta; e o repúdio, por ter lá chegado com a embarcação semidestruída e a tripulação num estado dilacerante. É que muitas vezes, para chegar com o barco são e salvo ao seu destino, os comandantes têm que alterar rotas para contornar tempestades e isso é que faz deles grandes “homens do leme”

sábado, 9 de junho de 2012

Espanha também vai cair

Num processo em tudo idêntico ao de Portugal a Espanha também cairá aos pés dos mercados. Pelo que se vai lendo por aqui e por ali o pedido de ajuda financeira espanhol pode ficar decidido ainda esta tarde.
Em relação a Portugal, à Grécia e à Irlanda, a Espanha tem a vantagem de já conhecer o funcionamento de todo o processo e como tal tem a obrigação de “saber cair” de modo a procurar minimizar o mais possível os danos provocados pela queda.
Se passarmos os olhos pelo caso português, verificamos que o esticar da corda em demasia não favoreceu o nosso país. Espanha parece ter entendido a lição. E desta forma pelo menos evita a humilhação das classificações “lixo” das agências de rating.
No entanto, parece-me que o problema de Espanha pode ser outro. Se a necessidade de auxílio financeiro alastrar da banca ao Estado, terá a Europa capacidade para resgatar a Espanha?

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Fim do feriado do Corpo de Deus

Ainda a propósito do dia do Corpo de Deus, importará dizer, que pelas razões que todos conhecem, este é o último ano em que o mesmo é feriado em Portugal.
Este facto leva-me a tecer algumas considerações a propósito desta circunstância.
Desde logo para dizer que há países onde, à semelhança do que acontecia em Portugal, esta solenidade de natureza religiosa é feriado nacional; mas também há exemplos de Estados onde o mesmo já foi feriado e atualmente não o é.
Por outro lado, em termos estritamente religiosos, parece-me que o desaparecimento do feriado e a transferência da celebração festiva para o domingo seguinte é perfeitamente razoável. Assim já acontece com outras festividades onde a celebração litúrgica não coincide com a data do acontecimento referenciada pela tradição cristã. Estou a lembrar-me por exemplo do dia de Reis.
Dito isto e pensando, repito, na pura prática religiosa, parece-me que os crentes e particularmente os devotos do Santíssimo Sacramento, não deixarão de o ser pelo facto de este dia deixar de ser feriado.
Ainda assim, não posso deixar de notar que em muitas terras do nosso país, que se engalanavam (e de que maneira) para comemorarem esta festividade, existe hoje um sentimento de que se perdeu um acontecimento que fazia parte da sua tradição histórico religiosa e que era celebrado num dia de calendário especial.
Tapetes de Flores na festa do "Corpo de Deus" - Caminha 
Admitir este facto leva-me a constatar que as medidas que o Governo tem tomado (ou tem sido obrigado a tomar) começam a atingir os portugueses numa dimensão muito mais profunda que o indesejável “ir-lhes ao bolso”. E isso é mau, muito mau.
E no caso do corte dos feriados, parece-me que essa situação se torna evidente, pois falta demonstrar, em termos económicos, que o país venha a beneficiar com tal medida. Pelo contrário, tenho ouvido opiniões de gente muito informada (e bem formada), que garante que esta medida não terá qualquer impacto na economia real. E mais, garantem também que há países com economias bem mais desenvolvidas que a nossa onde o número de feriados até é superior.
Posto isto, e com o devido respeito por quem pensa de forma diferente, julgo que num país civilizado o aumento da produtividade nunca poderá ser alcançado com a degradação do bem-estar dos trabalhadores.
A diminuição do custo do fator trabalho parece-me que poderá ser suficientemente conseguida pelos ajustamentos no mercado laboral, pois a oferta de trabalho (por parte dos trabalhadores) supera em muito a procura do mesmo (por parte dos empregadores) e esta realidade conduz necessariamente a um abaixamento do preço de equilíbrio no mercado, facto que, por si só, já permite que as empresas adquiram trabalho a preços significativamente mais baixos.
Não valorizar adequadamente a realidade económica e social do país e tomar medidas com impacto na vida das pessoas que vão muito para além da questão económica e cujos benefícios não estão suficientemente comprovados, pode ferir de morte a credibilidade do Governo.
Passos Coelho disse, um dia destes, admirar a paciência dos portugueses. Mas o primeiro-ministro deve lembrar-se que a paciência é um recurso limitado e que tende acabar com o uso frequente...

terça-feira, 8 de maio de 2012

Eleições na França e na Grécia

O que resulta das eleições em França e na Grécia?
Pouco, muito pouco.
Apenas um voto de protesto, de europeus massacrados pela crise e completamente desorientados. Apenas um gemido doloroso de pessoas que sentem deitadas ao abandono.
Em França, François Hollande, ganhou as eleições presidenciais com uma margem muito escassa e não tem folga orçamental para fazer grande parte do que prometeu. Passará os próximos meses a explicar aos franceses que não lhes mentiu, tentando por todos os meios criar condições para ganhar as próximas eleições legislativas.
Na Grécia, a tragédia avoluma-se. As eleições legislativas espartilharam completamente os espectro político. O partido vencedor não tem condições para formar Governo e já desistiu de o fazer, pondo em causa as expectativas geradas no seu eleitorado. Dos partidos que se lhe seguirão, não se me afigura provável que qualquer um deles consiga formar um Governo de unidade nacional, forte e coeso. A ser assim, mudar para quê? Para pior já basta assim... como se diz cá em Portugal.

sábado, 5 de maio de 2012

Políticas de Sócrates quase levaram o país à bancarrota


Este ponto de vista já à época aqui o tinha antecipado. Em 2010, escrevi por cá, que injetar dinheiro público na economia não resolveria a crise e que o acréscimo de despesa pública naquele contexto nunca geraria crescimento. Perecia-me, como me parece hoje, que foi um erro, que quase nos levou à bancarrota.
Agora o desafio para os novos governantes é outro. O que se lhes pede è que não salvem o país da bancarrota á custa da falência dos portugueses. A história já nos ensinou que de nada vale ter um país com contas públicas equilibradas estando o povo a definhar.

terça-feira, 1 de maio de 2012

1º de Maio – Dia do Trabalhador

Hoje lembra-se o trabalhador - aquele que trabalha – e celebra-se o ato de trabalhar, como um direito que assiste a todos cidadãos e que deve ser exercido em condições dignas e respeitadoras da condição humana.
Foi precisamente a busca dessa dignidade que levou ativistas dos direitos dos trabalhadores a empreenderam no final do século XIX, nos Estados Unidos e em França, uma luta na defesa por uma jornada de trabalho com oito horas diárias. Os acontecimentos associados a essas lutas, como greves e grandes manifestações, inspiraram a comemoração deste dia à escala mundial.
Não deixa de ser espantoso que na atualidade, passado mais de um século, se assista a um movimento regressivo das conquistas dos trabalhadores de então.
Por isso, hoje, mais do que nunca, faz todo o sentido celebrar o "Dia do Trabalhador". Celebrar os direitos daqueles que trabalham; celebrar os direitos daqueles que queriam trabalhar, mas que não têm trabalho; e também, celebrar os direitos daqueles que já fizeram uma vida de trabalho.
Este é o dia para dizer bem alto, que não faz qualquer sentido destruir os alicerces sobre os quais se construiu a nossa sociedade.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Carvalho da Silva abandona o cargo de secretário-geral da CGTP-IN

Após mais de três décadas de ligação ao mundo sindical e 25 anos de liderança da CGTP-IN, Manuel Carvalho da Silva deixou ontem cargo de secretário-geral da maior Central Sindical portuguesa.
Oriundo de uma família de pequenos agricultores da zona de Famalicão, Carvalho da Silva, fez o curso industrial de montador electricista, na Escola Industrial Carlos Amarante, em Braga, tendo iniciado a sua vida profissional, aos 17 anos de idade, em empresas ligadas ao sector da electromecânica. E é precisamente neste sector de actividade que chega ao mundo sindical, através do Sindicato das Industrias Eléctricas do Norte. Em 1977, naquele que ficou conhecido como o congresso de todos os sindicatos, integra a Comissão Executiva da CGTP-IN (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional) e em 1986 chega ao cargo de coordenador da Central Sindical. A partir de Dezembro de 1999 passa a exercer as funções de secretário-geral, designação desde então adoptada para o cargo.
Passados que são 25 anos e aos 64 anos de idade, Carvalho da Silva abandona agora a liderança da CGTP-IN, sendo um caso raro de longevidade no exercício de um cargo de eleição, numa organização colectiva em Portugal.
Em algumas ocasiões, ao longo destes anos, o caso de Carvalho da Silva foi apontado como exemplo de um pertenço imobilismo da sociedade portuguesa, revelado pela falta de capacidade das suas organizações para se renovarem e adaptarem à evolução dos tempos. Em muitas situações o caso do dirigente sindical serviu até de exemplo para caracterizar os diversos poderes corporativos existentes no nosso país e cujos interesses instalados foram perdurando ao longo de décadas.
O que é certo é que Carvalho da Silva conseguiu em sucessivos mandatos, ao longo dos 25 anos em que esteve à frente da CGTP, mantê-la unida, como a maior Central Sindical portuguesa e independente de directórios partidários, pelo menos formalmente.
Em termos pessoais, o sindicalista retomou os estudos, tendo-se Licenciado e Doutorado em Sociologia, em 2000 e 2007,respectivamente.
Neste momento, quer se concorde ou não com as ideias e o pensamento político de Carvalho da Silva, quer se goste ou não do seu estilo, parece-me que é justo reconhecer-lhe mérito, quanto mais não seja porque ao longo dos anos se assumiu como uma personalidade que soube manter uma postura coerente com o seu discurso, qualidade que vai escasseando cada vez mais nas figuras públicas do nosso país.
Quanto ao seu futuro político, já ouvi comentadores experimentados, apontá-lo como um possível candidato da esquerda unida nas próximas eleições presidências, numa espécie de Lula à portuguesa. Tenho dúvidas que tal consenso venha a ser conseguido, mas logo se verá...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

As reformas de Cavaco Silva

Quando ouvi as declarações do Presidente da República a propósito do valor das suas reformas atribui-lhes o mesmo significado que o próprio veio agora esclarecer ter querido dar-lhe.
Nunca as interpretei como sendo proferidas por alguém que se lamentava de um hipotético exíguo valor das suas pensões, quando comparado com o da maioria dos portugueses, mas vi nelas uma pretensão de querer afirmar, que apesar de ser o mais alto magistrado da Nação, ele próprio, também está a sofrer com as medidas de austeridade, como qualquer outro cidadão.
Tudo o que se seguiu foi folclore.
Mesmo que Cavaco Silva não tenha dito exactamente o queria, o aproveitamento mediático da situação que se seguiu foi absolutamente lamentável, porque induziu o cidadão comum num erro de avaliação e criou na sociedade focos de tensão, onde eles declaradamente não existem e onde, a bem da sustentabilidade do país, convém que não sejam fomentados, muito menos de forma artificial.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

As taxas moderadoras aumentaram porque não há dinheiro.

Texto de Ricardo Oliveira

No dia 1, o  Ministro da Saúde declarou aos jornalistas que “metade dos hospitais do SNS estão em falência técnica”.


Como é sabido, no mesmo dia entraram em vigor as novas taxas moderadoras.
Desligando-me por momentos das simpatias partidárias, este comentário indignou-me, mesmo não sendo a primeira vez que o ouço.
Um hospital, tal como uma escola, tal como um tribunal, não entra em falência.
Se isso acontece, segue-se á falência do próprio Estado. Estamos perto, mas ainda não chegamos lá...
Pouco interessa nesta opinião entrar nos conceitos de gestão - sei que o Ministro não disse que o SNS estava falido, mas o melhor que o Ministro fazia no dia de entrada em vigor das novas taxas, era estar calado.
O que o Ministro acabou por dizer é que as taxas moderadoras aumentaram porque a saúde tem estado a dar prejuízo.
A oposição também gostaria, mas eu preferia que o Sr. Ministro tivesse dito: as taxas moderadoras foram aumentadas porque não há dinheiro!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Euro tem dez anos


Parece que foi ontem... mas estas notinhas já nos acompanham há dez anos!
Lembro-me bem do clima “apocalítico” que varreu o país nos tempos que antecederam a introdução da nova moeda. Das reportagens televisivas nas aldeias isoladas do interior do país, procurando velhinhos, de memória já debilitada, cuja dificuldade para converter escudos em euros fosse evidente. Lembro-me de numa dessas reportagens, ver uma senhora que mostrava um stock reforçado de produtos alimentares, não fosse ver-se impedida de os adquirir nos tempos que seguissem á introdução do euro, por não conseguir adaptar-se à nova moeda... Enfim... sempre tive a sensação de que aqueles cenários seriam mais jornalísticos do que reais e nunca temi pelo sucesso da operação, quanto mais não fosse, porque para o desenrasque não deve haver povo como o nosso. E ainda bem que assim é.
Passados poucos meses foi declarado oficialmente o sucesso do processo e todos nós ficamos orgulhosos, porque, mais uma vez, os portugueses tinham dado uma resposta à altura.
Seguiram-se tempos de euforia. Parecia impossível, podíamos viajar por grande parte da Europa e a nossa moeda era aceite na generalidade dos países (sem câmbios) e às mãos vinham-nos parar moedas e notas, cunhadas ou impressas noutros países, com igual valor à que circulava intra-portas. Tão inebriados ficamos que nem demos conta que os preços dispararam. E fomos compensando o aumento do custo de vida com o recurso ao crédito fácil que as baixas taxas de juro proporcionaram. Resultado: as pessoas endividaram-se de uma forma brutal e muitas delas vêm-se hoje completamente arruinadas. E o país? O país é o reflexo das pessoas: uma década sem crescimento económico, com o Estado a viver à custa de níveis de endividamento insustentáveis e as contas públicas a entrarem em colapso.
E o pior de tudo é que hoje também já se admite que até o próprio euro possa colapsar ou em alternativa, salvar-se, mas deitando-nos borda fora, num processo em que ninguém consegue, com rigor, prever as consequências.
Perante este estado de coisas, apetece dizer à portuguesa: peçamos mais dez anos... e depois logo se verá!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Desemprego de professores - emigração será solução?

Nos últimos tempos tem-se falado muito sobre a possibilidade dos portugueses emigrarem para encontrarem no estrangeiro o emprego que o nosso pais, neste momento, não consegue proporcionar-lhes. Esta possibilidade gerou polémica, porque foi admitida por alguns políticos, com responsabilidades governativas, inclusive pelo próprio primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.
Ora, o fenómeno da emigração não é novo em Portugal e a nossa sociedade habituou-se a conviver com ele ao longo de gerações. Se quisermos ir um pouco mais longe, poderemos até dizer que esta é uma realidade que tem acompanhado a nossa nação ao longo da sua história. É claro que os motivos que estiveram na origem da emigração do nosso povo nem sempre foram os mesmos. Se houve épocas, em que a emigração em Portugal esteve ligada à expansão da religião e do império, mais recentemente, no século passado e também já neste, a emigração aparece associada a motivos políticos e ideológicos (pela fuga à ditadura e procura de liberdade de expressão e pensamento) e sobretudo, por motivos económicos, como busca de emprego e de melhores condições de vida.
Então, se esta é uma realidade com que o nosso país convive ciclicamente porque é que agora gera polémica a simples possibilidade da emigração ser uma solução para resolver o problema da falta de emprego para alguns portugueses?
É que o tipo de emigração de que se fala hoje, não tem as mesmas características da que aconteceu, em sucessivas vagas, até meados da década de oitenta do século passado. Nessa ocasião, a nossa emigração era constituída essencialmente por pessoas com baixas qualificações, que nos países de acolhimento desempenhavam funções ligadas a trabalho operário, mas actualmente, além desta, fala-se de uma emigração conotada com jovens qualificados, alguns altamente qualificados, que nos países de acolhimento poderão desempenhar funções técnicas, cientificas e de direcção.
Porque assim é, o nosso país encontra-se num paradoxo: por um lado, é sabido que o nível geral de qualificação dos portugueses ainda está muito aquém do nível verificado nos países desenvolvidos; por outro lado, a economia do país não consegue gerar emprego, sobretudo para os mais qualificados.
Perante este cenário paradoxal a política de qualquer Governo deve ser orientada no sentido criar condições para que os portugueses possam viver e trabalhar em Portugal. As estratégias de desenvolvimento devem ser pensadas no sentido de se tirar o melhor proveito da qualificação dos portugueses, quanto mais não seja, porque essa qualificação fica muito cara e o país precisa de retirar dela o devido retorno e não deixar que sejam outros a fazê-lo.
Bem se vê, que pensando assim, sou contrário a qualquer corrente que de forma simplista encare como solução para o desemprego a emigração.
No entanto, não posso deixar de admitir que o país se encontra numa situação excepcional, fruto de décadas de equívocos e inércia ao nível da orientação estratégica do nosso sistema de ensino, que levou a que se formassem profissionais qualificados em excesso em determinadas áreas, continuando o país a ser deficitário noutras, quiçá mais relevantes para o seu desenvolvimento estratégico.
Posto isto, quero dizer que as declarações do primeiro-ministro, referindo-se ao caso concreto dos professores (e que tanta polémica geraram) não me parecem, pelo menos em parte, descabidas.
Disse PPC entrevista ao Correio da Manhã: Sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm, nesta altura, ocupação. E o próprio sistema privado não consegue ter oferta para todos. Estamos com uma demografia decrescente, como todos sabem, e portanto nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que, das duas uma, ou consegue, nessa área, fazer formação e estar disponível para outras áreas ou, querendo manter-se, sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa"
Parece-me que no essencial o diagnóstico está correcto. Não adianta assobiar para o lado e fingir que o problema não existe. Existe sim e a realidade é esta: em determinadas áreas, foram formados professores em excesso, profissionais que nos próximos anos não terão emprego, se por outro motivo não for, devido à diminuição da população estudantil, fruto da descida da taxa de natalidade. A realidade é dura mas tem que ser encarada: há milhares de professores no desemprego, pessoas que com esforço e á custa recursos pessoais e públicos se formaram na expectativa de uma realização profissional que agora vêem ser-lhe vedada.
Não vou pronunciar-me acerca dos responsáveis por este estado de coisas, até porque em muitos destes casos, os próprios visados, quando ingressaram em determinados cursos, já sabiam que as perspectivas de emprego seriam poucas; mas a verdade é que as vagas existiam e as expectativas foram criadas.
No entanto, aqui chegados, o que importa é que quem tem que decidir o futuro do país encontre soluções para esta gente. E o que PPC disse foi o mínimo: as pessoas que estão nesta situação não encontrarão emprego em Portugal, como professores, nos próximos anos e para saírem da situação de desemprego, de duas, uma, ou se convertem profissionalmente e passam a exercer outra profissão, ou emigram para serem professores no estrangeiro, em países que necessitem dos seus serviços.
Devo dizer que pessoalmente me custa admitir a possibilidade do país poder prescindir do contributo destes milhares de portugueses no seu processo de desenvolvimento, quanto mais não seja, porque, como acima disse, a sua formação também foi feita à custa de recursos públicos.
Entendo que o Governo, em colaboração com mundo empresarial e as Universidades devia pôr em marcha um processo de requalificação destes e doutros portugueses, uma espécie “Programa de Segundas Oportunidades”, que permitisse requalificar muita desta gente (que já provou ter capacidade para aprender) através da aquisição de novas competências, que lhes permitissem entrar no mundo do trabalho, de forma digna, mas noutros sectores de actividade.
Esta parece-me que seria a solução adequada. Por certo seria mais exigente para o Governo, para os empresários, para as Universidades e também para os portugueses que se encontram nesta situação. Mas para grandes males exigem-se soluções à altura e homens e mulheres determinados em ultrapassá-los.
Se assim for, a solução para os professores, pode não passar pela emigração.